Municipal
“Não precisava ser presa. Só chamar o Samu”, diz Maria Letícia
Rodrigo Fonseca/CMC

“Não precisava ser presa. Só chamar o Samu”, diz Maria Letícia

Vereadora foi ouvida pelo Conselho de Ética da CMC nas oitivas

Larissa Biscaia - sexta-feira, 15 de março de 2024 - 15:09

A vereadora Maria Letícia prestou depoimento ao Conselho de Ética da Câmara Municipal de Curitiba, nesta sexta-feira (15). Este foi o segundo dia de oitivas do processo de possível quebra de decoro. Os depoimentos começaram na semana passada, quando apenas uma pessoa foi ouvida. 

Em 26 de novembro de 2023, após sair do show da cantora Ludmilla, a vereadora bateu o carro que dirigia em um veículo estacionado na Alameda Augusto Stellfeld, no Centro de Curitiba. Ninguém ficou ferido. 

“Eu sentia que não estava confortável e por isso não fiquei no show. Eu não estava embriagada. No retorno para casa, com sensação de desconforto, comecei a sentir dor abdominal. A rua era estreita e estava cheia de carros. Eu tive a impressão de que aquele carro estava fora da vaga. Quando eu colidi, eu apaguei, perdi os sentidos na colisão. Quando acordei, o carro estava cercado de pessoas, cheio de gente ao redor. Fiquei com medo de sair do carro”, relatou a vereadora. 

Quando ela recuperou os sentidos, os agentes da Setran estavam no local.

“Aí, chegam os dois policiais e ele me aborda na janela, eu abro. Quando eu abro o vidro, ele coloca metade do corpo dele dentro do meu carro enquanto tenta pegar a chave. Eu me senti ofendida e agredida, achei violento. E fechei o vidro, ele invadiu o carro, me senti agredida”, disse Maria Letícia. 

Segundo a Polícia Militar, ela apresentava sinais de embriaguez, hostilizou os policiais e, como forma de intimidação, teria ameaçado ligar para o secretário de Segurança Pública. 

“Me colocaram dentro do camburão, um lugar apertado. Chutei a porta do carro porque entendi como uma violência, sou mulher, sou idosa. Quando abriram a porta do camburão eu tava com a condição psicomotora agitada por ter sofrido trauma durante o acidente, tonta, nervosa. Nisso, a soldado abre a porta e me algema. Quando eu sofri o acidente eu precisava de atendimento médico. Eu não precisava ser presa. Era só chamar o Samu para me defender.”, complementou. 

Ela ficou detida na carceragem da Delegacia de Delitos de Trânsito por menos de 24 horas, até ser liberada por uma decisão judicial. Segundo a vereadora, o exame do bafômetro não foi oferecido. Ela se recusou a fazer o exame de sangue por usar medicamentos à base de canabidiol. 

“Imaginem se eu faço um toxicológico e dá traços de THC. Eu estaria condenada pela possibilidade de estar usando drogas. Com o exame marcado, eu nem estaria aqui para me defender”, disse a parlamentar. 

Na ocasião, a vereadora fez um vídeo em que afirmou sofrer de neuromielite óptica, uma doença autoimune diagnosticada em 2015. Segundo a parlamentar, os medicamentos têm efeitos similares aos de uma embriaguez. 

Quem assina o documento é a médica anestesiologista Susiane do Rocio Brichta – amiga pessoal da vereadora e testemunha que será ouvida nas oitivas. As duas chegaram a ser sócias de duas empresas entre 2015 e 2019. Além disso, Susiane fez campanha para a amiga durante as eleições municipais de 2016 e teria feito por mais de uma vez doações em dinheiro para a campanha de Maria Letícia. 

Durante o depoimento, a vereadora afirmou ter uma série de sequelas em decorrência da doença e do tratamento com endocanabinoides. Questionada pelo relator do processo, o vereador Professor Euler, a parlamentar afirmou que nunca foi informada sobre o risco dos medicamentos com THC e a direção.

A defesa da vereadora tem dez dias úteis para apresentas as alegações finais. Depois disso, o relator tem outros dez dias úteis para apresentar o documento final. Ele será lido em reunião e deliberado pelos membros do conselho. A previsão é é que isso aconteça em meados de abril.

Compartilhe