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Requião não muda o discurso e vem perdendo espaço na política. Agora quer ser prefeito

Requião não muda o discurso e vem perdendo espaço na política. Agora quer ser prefeito

Veja alguns trechos da entrevista que concedeu à revista Piauí. Afirma que mandou Gleisi Hoffmann à pqp quando lhe ofereceu cargo na Itaipu.] Roberto Requião, em entrevista à revista Piauí, mostra que, aos 83 anos de idade e mais de 60 na política, não aprendeu nada em termos de diplomacia. Depois de ser derrotado em […]

Pedro Ribeiro - sábado, 20 de abril de 2024 - 19:30

Veja alguns trechos da entrevista que concedeu à revista Piauí. Afirma que mandou Gleisi Hoffmann à pqp quando lhe ofereceu cargo na Itaipu.]

Roberto Requião, em entrevista à revista Piauí, mostra que, aos 83 anos de idade e mais de 60 na política, não aprendeu nada em termos de diplomacia. Depois de ser derrotado em eleição para o Senado e ao Governo do Estado, deixou o PT e migrou para p PRN com objetivo de se candidatar à próxima eleição, no caso, à Prefeitura de Curitiba. Seria uma questão de sobrevivência política e até financeira, já que Requião é o único ex-governador paranaense que teve sua aposentadoria vetada pela justiça eleitoral.

Com a eleição de Lula presidente do Brasil, Requião esperava uma contrapartida, já que foi um cabo eleitoral de peso no Paraná onde, à época, teria perto de 20% de votos. Lula disse que o chamaria para uma conversa no Palácio do Planalto e nunca marcou o encontro. Sua emissária, a presidente do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann ficou de amenizar as investidas de Requião.

Segundo Requião contou à Piauí, passados alguns dias, Gleisi o procurou. Ela lhe ofereceu o cargo de presidente do Conselho de Administração da Itaipu Binacional O salário era de 27 mil reais. “Eu mandei à puta que o pariu”, relembra Requião. “Eu quero ver o país transformado. Eu não tô atrás de emprego, rapaz.”, fulminou o  velho Requião.

Requião foi se aborrecendo com as lideranças petistas. Ele defendia, ao lado de Zeca Dirceu e Angelo Vanhoni,  que o partido lançasse candidato a prefeito de Curitiba nas eleições de outubro deste ano, mas a direção nacional do partido preferiu aliança com o PSB, optando em apoiar o deputado federal, Luciano Ducci. Ai Requião chutou o balde.

Requião achou que a decisão da Executiva Nacional era um acinte. Inconformado, anunciou que estava de saída do PT – partido ao qual se filiara havia dois anos, depois de quatro décadas no MDB. Dias mais tarde, causou surpresa geral ao se filiar ao Mobilização Nacional (Mobiliza), partido nanico que até 2021 se chamava PMN e se identifica com o ideário da centro-direita.

Requião diz que nunca impôs ao PT sua candidatura a prefeito de Curitiba. Desconversa quando questionado. Mas, tão logo se alojou no novo partido, se colocou como possível candidato. “O Mobiliza é um partido pequeníssimo. Não tem fundo partidário nem espaço em televisão”, reconhece o ex-governador, que conta ter esperado – em vão – o convite de legendas mais estruturadas e de centro-esquerda, como o PDT. “Queriam me cancelar como político. Se eu não me filiasse, teriam conseguido. Mas não me enterraram. Nem eu, nem minhas ideias.”, pontua a Piauí

Junto às frustrações pessoais, afloraram críticas ao governo Lula. Ao receber a Piauí em sua casa em Curitiba, no começo de abril, Requião, um nacionalista puro-sangue, reclamou da gestão da Petrobras, defendeu a reestatização da Eletrobras (privatizada no governo de Jair Bolsonaro) e se disse muito irritado com as concessões do governo à agenda liberal. “O [ministro Fernando] Haddad é incapaz de comprar um hambúrguer com dinheiro público. É um cara sério. Mas é liberal. Saiu da USP e foi trabalhar com o [economista] Marcos Lisboa, no Insper. A cabeça dele é essa. Tá errado!”, reclamou o ex-governador. “O mercado acha uma maravilha…”

Uma das mágoas mais recentes é com José Dirceu. Estranhou-se com o ex-todo-poderoso petista durante a campanha, em 2022. Requião foi candidato a governador em oposição a Ratinho Junior (PSD). Terminou em segundo lugar, com 1,6 milhão de votos; Junior se reelegeu em primeiro turno com 4,2 milhões. A vitória do adversário era tão previsível que parte do PT, já pensando no dia seguinte à eleição, se aproximou de Junior, que é filho do apresentador de tevê Ratinho. Requião atribui essa aproximação a Dirceu. “O Dirceu almoçou comigo e jantou com o Ratinho [Jr.]”, lamenta o ex-governador. “Nunca mais falei com ele.”

Gleisi Hoffmann, sua conterrânea, publicou uma nota lamentando a desfiliação de Requião, mas também as “críticas injustas” que ele fez ao governo Lula. Procurada pela piauí para comentar as declarações do ex-governador e a suposta vaga na Itaipu Binacional, ela não respondeu. Fernando Haddad e José Dirceu também não retornaram os contatos da reportagem.

Apesar do diploma em jornalismo, não é afável com repórteres. Certa vez, em 2011, arrancou o gravador das mãos de um jornalista da Rádio Bandeirantes e apagou a entrevista que concedera a ele.

Ao receber a piauí, aparentava bom humor. “Maristela, esse é o bandido que veio me entrevistar”, disse, em tom de galhofa, quando a mulher chegou em casa. Fez outras provocações. “Você é filiado ao PT?”, perguntou ao repórter, no meio da conversa. Diante da negativa, replicou: “Essa revista sua é petista.” Por que acha isso? “Porque não sou idiota.”

Em 2022, entrou para o PT com deferências. A cerimônia de filiação foi um evento político disputado, que reuniu centenas de correligionários em Curitiba, em março daquele ano. O próprio Lula compareceu – foi sua primeira visita à capital paranaense desde que deixou a carceragem da Polícia Federal. No ato de filiação, além de enaltecer o novo quadro do partido, ele mencionou “puxões de orelha” que tinha levado de Requião (segundo o ex-governador, eram apenas discordâncias sobre como o petista, caso eleito, deveria conduzir as empresas estatais).

Sobre sua saída do PT: Requião talvez esperasse, por isso, maiores gestos de gratidão. Sua desfiliação precoce pegou muitos petistas de surpresa. “Eu não esperava. De verdade”, diz Arilson Chiorato, deputado estadual e presidente do PT no Paraná. Ele conta que soube da notícia por telefone, quando um secretário do partido ligou para ele para dizer que tinha acabado de receber a carta de desfiliação. “Eu respeito a história dele, temos uma convivência boa… Recebi isso com tristeza.”

Chiorato lamenta, mas não critica a decisão do ex-governador. É raro ouvir críticas – em parte porque Requião é um cânone da esquerda paranaense, mas também porque poucos querem se indispor com ele. A piauí buscou ouvir velhos emedebistas que o conhecem bem: o ex-presidente Michel Temer, o ex-senador e atual ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo, e o senador Renan Calheiros. Todos recusaram pedidos de entrevista.

Sob condição de anonimato, dois integrantes do PT reclamam que Requião é “intransigente” e “meio ultrapassado”. “É um quadro importante, com história, mas que não sabe ser confrontado. Não aceita o contraditório. É como um trator, que passa por cima”, definiu um petista. “Apesar de sua importância, que é inegável, o Requião fica com essa cantilena nacionalista, que não tem muito – ou nada – a ver com o Brasil de hoje”, lamentou outro.

Chiorato contemporiza. “As críticas que o Requião faz, as coisas que ele está falando hoje, são pontos que ele sempre defendeu. É coerente com a história dele.” O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) vai na mesma linha do colega. “O Requião governou [o Paraná] com PT e PSDB juntos. A Assembleia Legislativa naquela época era, em sua maior parte, de direita, mas ele sempre conseguiu formar maioria. Quem é ‘intransigente’ não consegue fazer isso.”

Requião não sabe bem que futuro lhe aguarda nas fileiras do Mobiliza – partido que não tem nenhum deputado federal, nenhum senador e nenhum governador. Ao ser perguntado sobre isso, responde com um clichê: “Vou continuar fazendo política. Sou um animal político.”

Requião Filho, por sua vez, deve seguir o caminho do pai. Ainda não se desfiliou do PT formalmente – só “de espírito”, diz. À piauí, explicou que teme perder o mandato de deputado estadual caso saia do partido neste momento. Mas a separação, garantiu, é só questão de tempo. “É impossível estar ao lado de quem manda no PT Nacional.” (Felippe Aníbal é jornalista radicado em Curitiba. Autor do livro Waltel Branco – O maestro oculto (Banquinho Publicações)

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