Reino Unido investe mais de R$ 630 milhões em IA em 2024. E o Brasil?

No início de fevereiro, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, anunciou um investimento de £ 100 milhões (quase R$ 650 milhões) para 2024, destinado a novos centros de pesquisa em inteligência artificial (IA) e ao treinamento de reguladores.

Avaliado em mais de US$ 21 bilhões, o mercado de IA do Reino Unido é o terceiro maior do mundo, depois dos EUA e da China, com mais de 50 mil pessoas empregadas. A expectativa é de que este mercado ultrapasse US$ 1 trilhão até 2035. As universidades britânicas produzem algumas das melhores pesquisas e talentos em IA, e o Reino Unido abriga o terceiro maior número de unicórnios e startups de IA do mundo.

O Livro Branco da IA

O anúncio do investimento veio logo após a divulgação da resposta à consulta do “White Paper” sobre a regulamentação da IA. Este documento define a abordagem regulatória do Reino Unido e visa garantir a capacidade do país de se adaptar rapidamente às questões emergentes, evitando impor às empresas encargos que poderiam inibir a inovação. O “White Paper” propõe cinco princípios a serem aplicados pelos reguladores existentes: (1) segurança, proteção e robustez; (2) transparência e clareza adequadas; (3) justiça; (4) responsabilidade e governança; e (5) contestabilidade e reparação. Em março de 2023, o Reino Unido já havia investido £ 110 milhões em IA.

A Cúpula Mundial de Segurança em IA

Em novembro do ano passado, a primeira Cúpula Global sobre a Segurança da IA (AI Safety Summit 2023), reunindo mais de 30 nações. Na ocasião, China, Estados Unidos e União Europeia concordaram em trabalhar juntos. Os países participantes assinaram a Declaração de Bletchley, comprometendo-se a unir esforços para estabelecer uma abordagem segura em relação à IA. Durante o evento, foi lançado o AI Safety Institute, um centro internacional sediado no Reino Unido, focado na pesquisa e regulação da segurança do setor.

Apresentado pela primeira vez no AI Safety Summit 2023, em Londres, o Relatório Científico Internacional sobre Segurança Avançada em IA terá sua próxima edição publicada no primeiro semestre de 2024. Este documento reúne pesquisas científicas sobre as capacidades e os riscos associados à IA avançada e orienta as discussões em futuras Cúpulas de Segurança de IA e na elaboração de políticas globais.

Enquanto isso, no Brasil…

Enquanto isso, o Brasil também mostra crescimento no uso da tecnologia. Contudo, ainda há um descompasso com os investimentos em pesquisa e regulamentação. Segundo o relatório Artificial Intelligence Index Report, da Universidade de Stanford, o Brasil é o país com o maior crescimento no número de contratações de profissionais na área de IA entre 2016 e 2020, destacando-se pelo aumento na produção de dados. Isso aconteceu devido a fatores como o número de usuários de internet (que dobrou em uma década), o tempo médio diário na rede (9 horas, entre uso pessoal e profissional) e a alta disseminação de smartphones (71 aparelhos para cada 100 habitantes). No entanto, faltam dados sobre investimentos em pesquisa, regulação e incentivos à inovação usando IA.

É verdade que foram dados passos importantes. Já temosbases sólidas estabelecidas para a regulação da IA, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o Plano Nacional de Internet das Coisas e o Marco Civil da Internet. Há também iniciativas em andamento para promover a transparência e a acessibilidade dos dados, como os Planos de Dados Abertos dos poderes Executivo Federal e Judiciário.

Além disso, a cooperação entre diversos setores da sociedade fomentou a capacitação técnica e a contratação de inovações tecnológicas, conforme previsto na Lei de Inovação, Complementando este cenário, existe uma infraestrutura pública, como o Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Sinapad). Iniciativas como a Resolução CNJ n.º 332/2020 e a Estratégia Nacional de IA, publicada em 2021 – embora esta última ainda levante críticas. Um relatório do ITS Rio concluiu que “iniciativas legislativas sobre IA neste momento podem ser prematuras e precoces, resultando em uma alocação ineficiente de recursos e capital político para a consolidação de um plano eficaz para IA no Brasil”.

Portanto, estamos progredindo, mas é necessário fortalecer os esforços para aproveitar todo o potencial dessa tecnologia e garantir competitividade no cenário global. A colaboração entre os setores público e privado, juntamente com o envolvimento da sociedade civil, é essencial para impulsionar o avanço da IA no Brasil e preparar o país para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do futuro digital.