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A difícil tarefa de combater o processo inflacionário
Reprodução/Unsplash @moneyphotos

A difícil tarefa de combater o processo inflacionário

O ano começou otimista com relação à queda mais acelerada da inflação dos EUA

Lucas Dezordi - segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024 - 15:30

O ano de 2024 começou bem otimista com relação à queda mais acelerada da inflação dos EUA. Muitos economistas e instituições financeiras projetavam uma inflação ao consumidor próxima de 2,3% ao final desse ano, abrindo espaço para uma queda acentuada dos juros. As perspectivas indicavam uma redução de 6 a 7 quedas seguidas nos juros básicos da economia (Fed Fund Rate), a partir de março. Durante o ano o Comitê de Política Monetária irá se reunir em 8 reuniões, ou seja, o otimismo era grande.

Entretanto, os dados atuais de inflação mais persistente estão obrigando os analistas a reverem suas posições e apostas de queda mais acentuada dos juros. Destaco que o Índice de Preços ao Consumidor (CPI em inglês) em janeiro subiu 0,3% e em 12 meses está em 3,1%. Observamos uma pressão forte na inflação de serviços que no mês 0,7% e em 12 meses registrou alta de 5,4%. Em janeiro, em relação ao mês anterior, registramos uma aceleração de habitação (de 0,4% para 0,6%), serviços de transportes (de 0,1% para 1,0%) e serviços de cuidado médico (de 0,5% para 0,7%). O cenário que temos é que o restrito mercado de trabalho vem pressionando os salários e custos para cima. Os ganhos médios mensais por hora dos trabalhadores, neste período, aumentaram de 0,13% para 0,19%. Com isso, janeiro foi o maior ganho salarial nos últimos 20 meses.

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Fonte: U.S. BUREAU OF LABOR STATISTICS. Elaboração: Lucas Dezordi

Quando analisamos a taxa de desemprego de 3,7% da população economicamente ativa (ver gráfico acima), observamos que realmente o mercado de trabalho está superaquecido e indicando um desequilíbrio: excesso de demanda por mão de obra. Neste caso, é recomentado manter os juros altos por um período mais longo para que a economia reduza seu ritmo de crescimento. Não estou dizendo que será necessária uma recessão, mas apenas um ajuste no crescimento da economia.

Aqui no Brasil, o mercado de trabalho também está aquecido e registrando quedas recorrentes na taxa de desemprego. Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) a taxa de desemprego caiu de 15% no primeiro trimestre de 2021 para 7,4% no quarto trimestre de 2023. Com efeito, a inflação de serviços mostra-se mais resistente e está rodando mais perto de 5,5% no índice acumulado em 12 meses.

Estes fatores, a princípio, irão gerar uma necessidade de manutenção dos juros mais elevados por um período mais longo. Neste ano é provável que teremos novas quedas nos juros no Brasil e nos EUA, mas em valores menores do que o previsto no início do ano. Assim, estamos percebendo que os investidores estão recalculando a trajetória de curto e médio prazo da dinâmica inflacionária e na redução dos juros, pois realmente está difícil combater o atual processo inflacionário.

Lucas Lautert Dezordi, é doutor em Economia, sócio da Valuup Consultoria, economista-chefe da TM3 Capital e professor da PUC PR.

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