Colunas
Recorde na balança comercial em 2023. O que esperar para 2024?
Gelson Bampi/Divulgação

Recorde na balança comercial em 2023. O que esperar para 2024?

Nesta sexta-feira, dia 5 de janeiro, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgou o maior saldo da balança comercial brasileira desde 1989. O valor recorde de US$ 98,8 bilhões em 2023, como demonstrado no gráfico abaixo foi 60% maior que o saldo positivo de US$ 61,5 bilhões em 2022. Um crescimento espetacular. […]

Lucas Dezordi - terça-feira, 9 de janeiro de 2024 - 10:35

Nesta sexta-feira, dia 5 de janeiro, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgou o maior saldo da balança comercial brasileira desde 1989. O valor recorde de US$ 98,8 bilhões em 2023, como demonstrado no gráfico abaixo foi 60% maior que o saldo positivo de US$ 61,5 bilhões em 2022.

Um crescimento espetacular. Mas será que conseguiremos repetir esse crescimento em 2024? Provavelmente não. Com uma redução na produção agrícola na safra 2023/24, as exportações tendem a reduzir e as importações subirem para abastecer o mercado doméstico.

Quando analisamos esse grande saldo pelas contas abertas, precisamos destacar pelo menos três pontos. Primeiro, as exportações cresceram em 1,7%, puxadas pelo setor da agropecuária com expansão de 9,0%. As vendas de soja para o exterior cresceram 14,4% e de açúcares 42,9%.

Segundo, as importações em 2023 caíram 11,7%, puxada muito pela redução da indústria extrativa de 27,0% e a indústria de transformação com 10,0%. As compras de Bens Intermediários caíram 15,3% e de Equipamentos de Telecomunicações 14,1%.

Terceiro ponto. Há uma ligação direta entre a queda das importações de máquinas e equipamentos com redução dos investimentos produtivos. Por exemplo, quando o Brasil compra uma máquina e equipamento ou matérias-primas, estas são registradas positivamente no item formação bruta de capital fixo e ajudam no crescimento de longo prazo da economia sem inflação.

Contudo, em 2023 nos dados do PIB o investimento produtivo vem registrando sucessivas quedas. No terceiro trimestre de 2023 em relação ao segundo trimestre, os investimentos caíram 2,5% e no mesmo trimestre do ano anterior o IBGE divulgou uma queda de 6,8%.

O que podemos observar foi que o crescimento da economia brasileira em 2023 foi muito concentrado no consumo das famílias, gastos do governo e nas exportações. Pelo fato de o investimento produtivo ter reduzido em 2023, essa dinâmica em 2024 pode ser prejudicial para a expansão da oferta de bens e serviços, pressionando para cima a inflação.

Na Ata da 259ª Reunião do Copom, a Autoridade Monetária mostrou-se preocupada com a situação. Destaco o seguinte trecho do sétimo parágrafo: “Alguns membros (Copom) avaliaram que a persistência de uma conjunção de maior resiliência do consumo e queda no investimento poderia provocar, no médio prazo, um excesso de demanda em relação à oferta, com potenciais impactos sobre preços”.

Neste sentido, seria importante a economia brasileira registrar em 2024 uma expansão das importações de máquinas e equipamentos para ampliar seu volume total de investimentos e evitar, com isso, uma restrição na oferta. Lembrando que nesse ano, estamos projetando uma queda nos juros e aumento dos gastos públicos em período de eleição municipal, isto é, uma expansão na demanda.

Com isso, um superávit comercial menor, mas robusto, poderá gerar um crescimento equilibrado em nossa economia.

Lucas Lautert Dezordi, é doutor em Economia, sócio da Valuup Consultoria, economista-chefe da TM3 Capital e professor da PUC PR.

Compartilhe