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Que imprensa é esta que julga o Ministério Público, o Poder Judiciário e pressiona por condenações?
Reprodução/Google Earth

Que imprensa é esta que julga o Ministério Público, o Poder Judiciário e pressiona por condenações?

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ademar Traiano (PSD), dificilmente vai perder ou renunciar ao cargo diante das denúncias de propinas que estão no calor das discussões no legislativo, no judiciário e na mídia. Ele está respaldado pelo Código de Processo Penal (CPP), Lei 13.964/2019 (pacote anticrime) com homologação do Tribunal de Justiça. Em uma […]

Pedro Ribeiro - sábado, 27 de janeiro de 2024 - 20:06

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ademar Traiano (PSD), dificilmente vai perder ou renunciar ao cargo diante das denúncias de propinas que estão no calor das discussões no legislativo, no judiciário e na mídia. Ele está respaldado pelo Código de Processo Penal (CPP), Lei 13.964/2019 (pacote anticrime) com homologação do Tribunal de Justiça.

Em uma discussão recorrente na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná entre os deputados Ademar Traiano, presidente da casa, e Renato Freitas, que poderia ser apenas mais um teatro político que normalmente acontece em parlamentos, acabou se transformando em uma polêmica discussão que ultrapassou os limites do bom-senso de uma entidade que representa as demandas do povo paranaense.

Traiano e Freitas puxaram o pino da granada e a explosão foi trágica, quebrando mais vidraças, graças à produção e distribuição de conteúdos jornalísticos com tons odiosos da Rede Paranaense de Comunicação – RPC (Rede Globo) e Gazeta do Povo – suposta detentora do monopólio de comunicação no Paraná. Provou, mais uma vez, sua perda de credibilidade da informação ao tomar atitude de quem pisa torto na própria sombra.

Ao insistir, através de seu suposto poder midiático, na condenação do presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano, por ter feito um acordo de não persecução com o Ministério Público, as empresas Gazeta do Povo e TV Paranaense, comandados pelos irmãos Guilherme Cunha Pereira e Ana Amélia Filizola, não fizeram a lição básica que reza a cartilha do bom jornalismo. Ou seja, pelo menos entender que o Ministério Público agiu dentro da lei em relação à decisão pela extinção da punibilidade.

É uma evidente e distorcida tentativa de fazer justiça com as próprias mãos, não aceitando as decisões das autoridades constituídas e a própria lei. Ademar Traiano e o então primeiro secretário da Alep, deputado Plauto Miró, reconheceram o trágico erro ao exigir e aceitar propina da TV Icaraí, de Maringá, para uma suposta renovação de contrato de produção e geração conteúdo da citada empresa.

O caso foi parar nas mãos do Ministério Público que fez a lição de casa, seguindo o que determina o Código de Processo Penal (CPP), Lei 13.964/2019 (pacote anticrime). O Acordo de Não Persecução Penal pode ser definido como uma espécie de negócio jurídico pré-processual entre o Ministério Público e o investigado, assistido por seu defensor. Nele, as partes negociam cláusulas a serem cumpridas pelo acusado, que, ao final, será favorecido pela extinção da punibilidade. O acordo está previsto no Artigo 28-A do CPP.

Não entramos no mérito da suposta chantagem ou corrupção mas, sim, na condução de como o caso vem sendo tratado por este grupo de comunicação. Traiano e Miró feriram o código da ética parlamentar ou de cidadãos gestores de poderes constitucionais. Pecaram, pediram perdão e terão que devolver o dinheiro que chega a próximo de R$ 300 mil. A sociedade ficará satisfeita em ver o cheque voltar aos cofres públicos.

Os veículos de comunicação, no entanto, pretendem se sobrepor à lei e só faltam julgar e condenar o Ministério Público, o Poder Judiciário e os supostos réus. Não é a primeira vez que este grupo de comunicação se utiliza dessa sórdida prática usando o poder da mídia.

São, por fatos como este, que há uma corrosão e perda de credibilidade da imprensa em relação ao consumo da informação. São, por fatos como este, que o jornalismo está em crise, vivendo um cenário dantesco que preocupa e exige autocrítica. É preciso que empresas como esta, tenham uma agenda propositiva aos seus eleitores que ficam perdidos de afirmações categóricas num clima de militância e forte dose de achismo.

“Jornalismo independente reclama liberdade. Não temos dono. Nosso compromisso é com a verdade e com o leitor”, nos ensina o professor de jornalismo Carlos Alberto Di Franco.

A corrupção, sim, não podemos negar, é um quadro que agride e temos que denunciar para que atos ilícitos sejam corrigidos em praça pública, diante dos olhos da sociedade. Mas, tons sombrios em coberturas jornalísticas chocam os consumidores de informação, principalmente quando destilam ódio em manchetes encomendadas e, no caso do deputado Ademar Traiano, o endereço e a entrega levam aos donos do grupo RPCOM.

No momento em que o país está se reconciliando com a legalidade, com o equilíbrio na distribuição da justiça e em que alguns erros estão sendo reparados pelo próprio MP e pelo Poder Judiciário, a RPC insiste numa linha editorial persecutória, de vingança a todo custo, sem a necessária serenidade na avaliação de casos que exigem rigor jornalístico e investigação antes de qualquer conclusão. É um jornalismo raso, inconsequente; uma máquina de moer reputações.

Não podemos esconder a realidade, mas devemos mostrá-la com análise objetiva e profunda. Não posso, também como jornalista, deixar de condenar a tentativa de censura que ocorreu a pedido do próprio presidente da Assembleia Legislativa. Isso é nocivo à liberdade de imprensa e ao nosso trabalho que é o de relatar os fatos e informá-los à sociedade. Um bom trabalho jornalístico sobre este bombástico episódio foi feito pelo jornal eletrônico Plural, sob o comando do editor-chefe, Rogério Galindo.

É responsabilidade do Ministério Público e do Poder Judiciário fazerem as diligências necessárias e darem o desfecho legal aplicável às condutas dos deputados Ademar Traiano e Plauto Miró, bem como do empresário e ex-gestor da TV Icaraí, Vicente Malucelli. Cabe ao MP e ao Poder Judiciário atuarem com a seriedade de juramento e não desviar a curva do rio, criando ambiente terrorista com o objetivo de fazer prevalecer a vontade e a pressão da mídia.

O jornalismo é o oxigênio da democracia quando é praticado sem tóxico, sem veneno, sem ódio.

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