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Quantas mais?

Quantas mais?

A violência contra a mulher é um problema social que precisa ser combatido por todas e todos nós para que todas mulheres possam viver com plenitude e sem medo

Daiana Allessi - quinta-feira, 10 de novembro de 2022 - 09:00

Refleti muito sobre qual assunto abordar na coluna dessa semana, a minha cabeça estava a mil, reuni algumas pautas empolgantes, leves e mais palatáveis do que o tema que tratarei hoje: violência contra as mulheres.

Eu não seria fiel aos meus pensamentos e inquietudes e com certeza me sentiria hipócrita em não jogar luz sobre esse problema social que afeta as mulheres diariamente, em maior ou menor potencial ofensivo, e que em muitos casos subtrai a vida de muitas apenas por serem mulheres. Chocante, não?

Os meios de comunicação não cessam de noticiar casos de violência de gênero e, infelizmente, de feminicídios que acontecem da maneira mais cruel e covarde possível, em uma histeria masculina por demonstrar poder e controle.

Vivemos em uma sociedade que possui raízes patriarcais e machistas que insistem em hierarquizar o masculino em detrimento do feminino e essa desigualdade que começou com nossa colonização, segue perpetuando estereótipos que permeiam o imaginário popular e naturalizam as inúmeras violências cometidas por homens contra mulheres.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022 demonstram que embora tenha ocorrido uma sutil queda de 1,7% na taxa de feminicídios entre os anos de 2020 e 2021, o número de mulheres mortas pela condição de serem mulheres nos últimos dois anos assusta – 2.695 mulheres assassinadas – 1.354 em 2020 e 1.341 em 2021.

No estado do Paraná a situação não é animadora, pois conforme dados atualizados pela Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (CEVID) do Tribunal de Justiça do Paraná, contabilizou-se no ano de 2021, 42.539 casos de violência doméstica contra a mulher e, até o mês de junho desse ano, foram registrados 96 casos de feminicídio.

Mesmo com todos os avanços legislativos que sucederam a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) no tocante ao combate à violência, nossa realidade nos mostra o quanto é perigoso ser mulher na sociedade brasileira, o quanto estamos vulneráveis em virtude de uma cultura injusta que chancela desigualdade, brutalidade e opressão e, embora a Constituição Brasileira determine a igualdade entre homens e mulheres, fica claro que estamos muito longe dessa realidade.

Tirar a vida de qualquer pessoa é um ato odioso, porém, matar uma mulher apenas pelo fato dela ser mulher, pelo sentimento de posse e propriedade, pela contrariedade pelo término de um relacionamento, pela honra ou por qualquer outra desculpa esfarrapada e ultrajante, não faz sentido e não tem mais lugar na sociedade atual que deve prezar pelo respeito e não pela barbárie de uma cultura de opressão.

Quem nunca ouviu, “eu não sou machista, até deixo minha mulher trabalhar!”, “deixei minha mulher estudar”, “não sou machista, mas na minha casa eu mando” … e por aí vai. Essas frases apenas ilustram um pouco do modo de raciocinar e agir de uma parcela (infelizmente!) expressiva de homens, que por terem sido ensinados que há uma hierarquia dos homens em relação às mulheres, não encontram problemas e naturalizam falas e atitudes como se fizessem um favor em permitir que as mulheres possam usufruir dos mesmos bens da vida que eles historicamente usufruem.

É esse machismo que em grau maior ameaça, agride, viola e mata mulheres e meninas e que no Brasil vitima por feminicídio 3 mulheres por dia. Portanto, caro leitor e leitora, espero que ao tomarem conhecimento sobre esses dados horríveis da nossa realidade, sensibilizem-se tanto quanto eu me sensibilizo e promovam sua parcela de mudança para um mundo mais simétrico entre homens e mulheres, pois cabe a nós alterarmos as narrativas sociais e começarmos a revolução de dentro para fora que de fato contribua para a paz e o respeito.

Fica a pergunta:

Quantas mais?

Em respeito e memória de tantas paranaenses que tiveram suas vidas interrompidas, Alices, Tatianes, Suellens, Cidnéias, Lucianes, Sandras, Anas, Marias, entre tantas outras mulheres. Que essa lista um dia tenha fim!


Daiana Allessi é mãe, esposa, advogada, professora e pesquisadora sobre gênero e direitos das mulheres.

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