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A arte de defender ideias e projetos

A arte de defender ideias e projetos

Há um programa extra curricular entre os alunos dos níveis colegial e universitário que os prepara para a criação, apresentação e defesa de ideias e projetos. São as simulações dos debates da ONU, isto é, os estudantes se organizam para defender países – por livre escolha ou indicação – em diversos assuntos como se fosse […]

Pedro Ribeiro - quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024 - 09:24

Há um programa extra curricular entre os alunos dos níveis colegial e universitário que os prepara para a criação, apresentação e defesa de ideias e projetos. São as simulações dos debates da ONU, isto é, os estudantes se organizam para defender países – por livre escolha ou indicação – em diversos assuntos como se fosse em um plenário da instituição.

Os participantes, em forma de equipes, trabalham exaustivamente na elaboração das suas propostas e depois vão às tribunas para defendê-las em conjunto, como verdadeiros diplomatas. Fazem propostas para solucionar conflitos, proteção ao meio ambiente, situação de refugiados, saúde pública, doenças epidêmicas, educação, meio ambiente, etc. O sistema já existe há tempos em outros países e de alguns anos para cá tem sido implantando com entusiasmo no Brasil.

Tudo para melhorar a educação e o mundo

Dentre as várias instituições que se dedicam a arregimentar e preparar alunos para atuarem está a Fundação Internationali Negotia, há 21 anos no Brasil. Estudantes de vários estados apresentam os seus trabalhos em comitês estaduais e os escolhidos enfrentam uma final em Brasília e de lá, os melhores vão em outra etapa em Nova York. As defesas das ideias devem ser apresentadas em apenas uma página e o aluno tem um minuto de tribuna para defendê-las.

Gloria Takagui Dias – aluna de Curitiba vem se destacando nos debates

Ex -aluna do Colégio Santa Maria, terminou o terceirão em uma das mais rígidas escolas de São Paulo – o Colégio Etapa –, começou a participar dos debates em 2021 e foi galgando degraus em suas apresentações. Ela acaba de conquistar o terceiro lugar em debates na Harvard University – Estados Unidos – onde representou a Suíça na proposta de soluções para a situação dos refugiados da Síria. Na Universidade de Yale também conquistou o terceiro lugar onde  defendeu  o Irã nos assuntos de transporte e prevenção de acidentes de substâncias químicas e tóxicas, regulamentação de armas químicas, transporte seguro de petróleo e a situação do país perante a OPEP.  O embate foi difícil porque a aluna adversária, que representava a Rússia, era divergente demais com as propostas. Não é fácil enfrentar a Rússia na ONU – eles tiram o sapato e batem na mesa. (Nikita Khrushchev – reagiu com fúria ao discurso do representante das Filipinas tirando o sapato e batendo fortemente na mesa – 13/10/1960)

Alunos viram diplomatas

As simulações são apresentadas em inglês, portanto os participantes  devem ser fluentes neste idioma. Aprendem a falar e defender ideias em público, criam delegações, secretariados, comitês e formam blocos que seguem rigidamente os padrões de trabalhos da diplomacia da ONU. Até a vestimenta tem que ser adequada – terno para os rapazes e terninhos para as garotas.

E se surgir uma crise internacional no meio da noite?

Nas apresentações em Brasília os alunos dormem nos próprios locais dos debates pois há um exercício sobre como enfrentar e resolver um conflito inesperado em plena madrugada. Eles são acordados para atenderem assuntos emergenciais (fictícios) dados pelos monitores. A história real está cheia de eventos deste tipo.

No programa existe também a modalidade de discussão entre duas equipes – uma a favor e outra contra um assunto proposto. O objetivo é despertar a habilidade de construir novos casos, apresentar e defender argumentos e saber conduzir conversações.

Vantagens para quem participa

Gloria se entusiasmou tanto com o programa que passou a incentivar, nas escolas brasileiras, a criação de novos grupos de debates – em pouco tempo conseguiu montar 12 em diferentes cidades. Ela diz que achou o seu espaço e que é nos confrontos e debates que se realiza. Por isso está se preparando para os vestibulares de Direito, Relações Internacionais, Ciência Política e Economia na USP. Os eventos criam parcerias e amigos por todo mundo, estudantes passam a se visitar e a compartilhar ideias. Ficar longe da família por dias, convivendo com desconhecidos, conversando em outros idiomas, expande nossas percepções em relação ao futuro.

Um duro preparo 

Os cuidados para as apresentações exigem observação e detalhes importantes – a roupa a ser utilizada, altera ou não altera o tom de voz, como expressar uma frase, como chamar atenção dos jurados, os cuidados na alimentação e do sono antes dos eventos, as pesquisas sobre o assunto – conversas com especialistas, políticos , assistir documentários, ler muitos livros etc.

A ideia não é nova

A retórica era a principal matéria de estudo entre os jovens gregos e romanos.

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