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O que o Paraná tem feito para prevenir enchentes e evitar o caos do RS
Em 2023, mais de 130 cidades do Paraná foram atingidas por chuvas intensas (Foto: Defesa Civil/Paraná)

O que o Paraná tem feito para prevenir enchentes e evitar o caos do RS

Saiba quais regiões do estado e da capital têm mais risco de enchentes e alagamentos

Brenda Iung - quinta-feira, 9 de maio de 2024 - 17:56

1,4 milhão de pessoas afetadas. 107 mortes. 136 desaparecidos. 374 feridos. 230 mil pessoas fora de casa. 428 municípios atingidos. O panorama da catástrofe ocasionada pelas chuvas no Rio Grande do Sul não para de crescer, conforme os dados da Defesa Civil. O Paraná se mostrou solidário e organizou diversas correntes para viabilizar a ajuda ao estado da Região Sul. Mas o que o Governo do Estado e a Prefeitura de Curitiba têm feito para prevenir enchentes e não sofrer com estragos semelhantes aos vistos no RS na última semana?

Quais são as regiões do Paraná e de Curitiba com o maior risco de enchentes

Especialista em Emergências Ambientais, o engenheiro ambiental e professor da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Alessandro Bertolino, avaliou quais são as áreas do estado e os bairros da capital com os maiores riscos de enchentes.

“Em qualquer lugar, as áreas de maior risco são aquelas mais baixas, principalmente com declividades mais baixas, nas quais a água não consegue escoar de maneira mais satisfatória”.

Em Curitiba, isso acontece mais próximo às áreas do Rio Iguaçu, como o visto nos bairros do Boqueirão, do Uberaba, do Alto Boqueirão. E nas regiões próximas à foz do Rio Barigui, como o bairro Santa Quitéria.

Além disso, Bertolino cita cidades da Região Metropolitana entre as quais apresentam riscos de enchentes: Araucária e Fazenda Rio Grande.

Já no Paraná, a área mais baixa é a apresentada em Foz do Iguaçu. Outro fator que faz da cidade um ambiente propício para a formação de enchentes é o fato de que a cidade recebe quase toda a água do estado por meio dos rios — o Rio Paraná, maior da região, recolhe as águas dos rios Paranapanema e Iguaçu e, por meio dele, as águas dos rios Barigui e Belém.

Além disso, a região de União da Vitória é também uma área de atenção no Paraná. Isso porque o Rio Iguaçu apresenta grandes curvaturas, chamadas de “serpentes” e a declividade do município é baixa. Em 1983, a cidade sofreu uma das maiores tragédias da história do Paraná: o rio ultrapassou 10 metros e alagou 70% da cidade.

Em um episódio semelhante, no ano passado, a cidade registrou um avanço que fez com que o rio atingisse oito metros — o normal é dois metros — e causou alagamentos por toda a região.

Como o Governo do Paraná previne as enchentes

Em janeiro deste ano, o estado decretou situação de emergência para as cidades de Matinhos e Guaratuba após as cidades registrarem níveis de chuva acima do esperado e pontos de alagamento. A mesma situação foi registrada em novembro do ano passado, período em que mais de 25 municípios paranaenses foram seriamente afetados com as chuvas. Mais de 130 cidades registraram pontos de alagamento e 93 mil pessoas foram afetadas. Esses dados são da Defesa Civil do Paraná.

A partir desse cenário, o Governo do Paraná apresentou um vasto planejamento para evitar que situações como a do Rio Grande do Sul se repitam no estado. Em panorama enviado ao Paraná Portal, o estado defendeu investimentos na estrutura para a Defesa Civil, a fiscalização de barragens, a construção de parques urbanos, a atenção ao reflorestamento e comitês para gestão das bacias hidrográficas no estado. Veja o detalhamento a seguir.

Investimento na estrutura da Defesa Civil

No fim de 2023, o Governo do Paraná destinou R$ 52 milhões para a compra de novos veículos e equipamentos para o reforço ao trabalho da Defesa Civil. Entre os veículos, estão 35 caminhões auto-bomba-tanque, viatura de intervenção imediata para combate a incêndios com capacidade de até 5 mil litros de água e 25 carros.

A Coordenadoria Estadual da Defesa Civil também tem prestado orientações às prefeituras, para organização das defesas civil municipais e a criação de um plano de contingência para situações de risco nos municípios.

“Isso foi feito, por exemplo, antes o último verão com os municípios do Litoral, o que ajudou no atendimento das chuvas de janeiro, principalmente em Guaratuba”, afirma a nota do Governo do Paraná.

Criação do Fundo Estadual para Calamidades Públicas (Fecap)

Viabilizado pela Lei 21.720/2023, o Fecap permite a agilidade de repasses financeiros do Paraná aos 399 municípios em ações de combate e recuperação durante crises ambientais.

No ano passado, após as fortes chuvas mencionadas anteriormente, o Governo destinou R$ 30 milhões do fundo para os municípios que decretaram situação de emergência. De acordo com o relatório, os recursos foram usados para a reconstrução de estradas rurais, pontes, ruas, calçadas e galerias de águas pluviais, a limpeza de áreas urbanas e a compra de óleo diesel para abastecer o maquinário das prefeituras usado na recuperação.

Fiscalização de barragens

O Governo do Estado declara que, desde junho de 2023, realiza o monitoramento e inspeção de 1,3 mil das 1,6 mil barragens estaduais com lâmina de água superior a 10 mil m². Esse trabalho é viabilizado por meio de um convênio entre o Instituto Água e Terra (IAT) e o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar).

Conforme o panorama, o objetivo é “promover o reconhecimento das barragens do Paraná por meio de visitas técnicas para identificação, coleta e cadastro de informações. Após a conclusão das vistorias, as barragens são classificadas quanto à Categoria de Risco (CRI) e Dano Potencial Associado (DPA)”.

Construção de parques urbanos

Também sob os olhos do IAT, o Governo Estadual realiza, desde 2019, o projeto Parques Urbanos. Até o momento, já foram entregues 31 complexos e 34 estão em construção ou em fase de licitação. O investimento para os parques urbanos futuros é de cerca de R$ 80 milhões.

Focado em revitalizar áreas sujeitas à erosão ou regiões de fundo de vale, que sofrem com a degradação ambiental, o projeto visa a conservação da biodiversidade. Mas, em segundo plano, também apoiam a mitigação dos efeitos de desastres naturais, ampliando a permeabilidade do solo e a capacidade de retenção de água. Além disso, o Governo do Paraná cita como vantagens a redução do risco de erosão do solo, a melhoria da qualidade da água e a redução dos efeitos da “ilhas de calor”, que contribuem para a formação de tempestades em centros urbanos.

Prioridade para o reflorestamento

O Paraná distribuiu 9,5 milhões e mudas de árvores nativas, de 2019 até este ano. O plantio dessas espécies contribui para a redução dos efeitos climáticos e a melhoria da qualidade do ar. Além disso, ajuda na estabilização das margens de rios e córregos, evita a erosão de solo em chuvas intensas e reduz a velocidade do fluxo da água — o que previne inundações repentinas.

Outro ponto importante dessa iniciativa do Governo do Paraná é que as raízes das árvores ajudam na filtragem de poluentes, fazendo com que a qualidade da água seja melhorada, evitando o represamento de rios e, também, o entupimento de sistemas de drenagem.

Investimento em obras estruturais

O Governo do Paraná destina investimentos para obras que melhorem a estrutura do estado e reduza o risco de alagamentos, enchentes e deslizamentos.

Francisco Beltrão: com um investimento de R$ 50 milhões, a obra ampliou o túnel para o escoamento de água do Córrego Urutago até o Rio Marrecas e criou um canal de contenção de cheias na região. O Governo do Paraná afirma que com o aprofundamento do leito e o alargamento do rio, a obra já mostrou resultados positivos após um período recentes de chuvas intensas na cidade não causarem inundações — que afetavam a região há décadas, de acordo com o comunicado oficial.

Matinhos: com um investimento de R$ 49,2 milhões para macro e microdrenagem, a obra integra o projeto de revitalização da orla no litoral paranaense. A obra deve ser concluída em 2024 e tem o objetivo de aprimorar o escoamento das águas das chuvas para o mar, evitando as inundações comuns na região.

Atenção ao futuro

Para o futuro, o Governo do Paraná prevê o investimento de R$ 8 milhões para aprimorar o monitoramento e a emissão de alertas sobre a ocorrência de desastres naturais. Com a tecnologia, por meio do programa Paraná Eficiente, o Paraná deverá ter maior controle sobre dados cartográficos, redes de monitoramento ambiental e, com isso, ter mais agilidade para tomadas de decisão em situações de risco ao estado.

Como a Prefeitura Curitiba previne as enchentes

Em 19 de março deste ano, os moradores do Centro de Curitiba se assustaram com alagamentos na região da Praça Osório. As ruas Dr. Carlos de Carvalho e Visconde de Nácar ficaram submersas — na altura do pneu de carros — por cerca de uma hora.

Já em outubro de 2023, período em que o Paraná também sofreu com fortes chuvas, o extremo sul da capital, como a região da Caximba, foi impactado com alagamentos. De acordo com a Defesa Civil, 12 famílias do bairro ficaram desalojadas. Os alagamentos se repetiram no Parque Barigui e Tingui, já idealizados para esse fim. Cidades da Região Metropolitana, como Almirante Tamandaré e Campo Largo registraram pontos semelhantes.

Na capital paranaense, os esforços estão concentrados em prestar apoio à população em áreas de risco, no cuidado com os rios da cidade e na atenção ao reflorestamento. Veja, na sequência, as ações da Prefeitura de Curitiba para evitar alagamentos e enchentes na cidade.

Investimento em sistema de drenagem

Desde 2017, a Prefeitura de Curitiba atua para aprimorar os sistemas de macro e microdrenagem na cidade. 30 obras com esse objetivo foram realizadas, com um orçamento de mais de R$ 255 milhões. Assim, a água escoa rapidamente após a chuva cessar, reduzindo o risco de enchentes em diferentes pontos da cidade.

No momento, as obras para esse fim estão concentradas em seis bacias hidrográficas na região de Curitiba: rios Passaúna, Belém, Barigui, Atuba, Iguaçu e Ribeirão dos Padilha.

Atenção à limpeza dos rios

O programa Curitiba Contra Cheias, viabilizado por meio do Departamento de Pontes e Drenagem da Secretaria Municipal de Obras Públicas (Smop), realiza continuamente a drenagem e a limpeza de rios e córregos da capital.

Só nos primeiros meses de 2023, foram mais de 110 ações, que incluiram 35 km de rios, córregos, valas de drenagem e canais. Desde 2017, mais de 380 mil metros de cursos d’água foram limpos na capital.

Incentivo ao reflorestamento

Com o projeto 100 Mil Árvores, a Prefeitura de Curitiba incentiva que as iniciativas públicas e a sociedade civil contribuam com o reflorestamento na cidade. Em cinco anos, mais de 450 mil obras foram plantadas na cidade.

Apoio à população em áreas de risco

Um dos pontos mais relevantes para evitar que a população de Curitiba sofra com as consequências de chuvas intensas é a atenção às áreas de risco. Com o incentivo de US$ 57 milhões (aproximadamente R$ 294 milhões) da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), a Prefeitura está construindo o Bairro Novo da Caximba.

Esse será o primeiro bairro inteligente do país e um dos maiores projetos socioambientais da história de Curitiba. Após a conclusão, mais de 1,1 mil famílias que vivem em situação de vulnerabilidade ao redor dos rios Barigui e Iguaçu será reassentadas e receberão assistência multidisciplinar. O objetivo é começar a entregar as 752 casas do projeto ainda neste ano.

Fundo Municipal de Emergência

Em entrevista à BandNews Curitiba, o vice-prefeito Eduardo Pimentel explica que a Prefeitura criou, há quatro anos, o Fundo Municipal de Emergência. Dedicado à apoiar a cidade em momentos de catástrofe, o fundo já conta com R$ 150 milhões.

Papel da sociedade é importante para evitar que uma região sofra com os efeitos das mudanças climáticas

Tanto o Governo do Paraná, quanto a Prefeitura de Curitiba, oferecem fóruns e cômites abertos para que a sociedade civil possa contribuir com soluções ligadas ao meio ambiente. Para participar, acompanhe as ações nos sites do Governo do Paraná e na Prefeitura de Curitiba.

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