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Em três anos e meio, ambulância pet faz 2.300 atendimentos em Curitiba

Em três anos e meio, ambulância pet faz 2.300 atendimentos em Curitiba

A maioria dos resgatados são cães. Atendimento é exclusivo para animais em situação de rua, vítimas de atropelamento

Ana Flavia Silva - terça-feira, 18 de abril de 2023 - 19:21

Faz quase um ano que a vida da família de Cândido Luiz Schelbauer ganhou uma nova integrante: Pitoca chegou à casa para tornar os dias mais agitados. A vira-lata caramelo, pelagem típica e muito fácil de encontrar pelas ruas, foi resgatada pela ambulância pet de Curitiba depois de sofrer um acidente. Após a recuperação, ficou no Centro de Referência para Animais em Risco (CRAR), aguardando adoção. “Foi numa troca de olhares: me chamou a atenção uma cadelinha caramelo, com um olhar radiante e meigo. Bichinho dócil, muito esperta e querida”. Amor à primeira vista, adoção feita.

Na época, Pitoca era Amora, uma entre os 2.300 animais já atendidos pela Unidade de Resgate Animal, da Rede de Proteção Animal da Prefeitura de Curitiba. Lançado em setembro de 2019, o sistema é específico para a recuperação de animais em situação de rua, vítimas de atropelamentos. “Foi um projeto ousado, por ser um serviço bastante complexo, mas a gente está derrubando as “teorias contra” na prática”, comemora o diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Edson Evaristo. “É um serviço especializado, que tem uma demanda muito grande”, complementa.

Para dar conta da demanda, existe um protocolo rigoroso – e que precisa ser ágil – para fazer uma triagem dos casos. “A triagem é feita pela Central 156, desde o primeiro momento em que a pessoa aciona o serviço, com um cadastro com os dados dela. O solicitante precisa permanecer no local até a ambulância chegar e fazer o atendimento. Nossa prerrogativa é chegar ao local em no máximo 50 minutos”, conta Edson. Por telefone, é preciso informar a localização do animal ferido, com o máximo de precisão possível, e dar informações que possam ajudar a equipe a entender a gravidade do caso.

O rigor é também uma forma de inibir ações que não estejam de acordo com o propósito do trabalho. No começo, as equipes chegaram a identificar o caso de um animal que tinha tutor. Ou seja: tinha um responsável por ele, que deveria ter agido para evitar o acidente, e para oferecer atendimento particular se necessário. “A demanda é muito maior do que a gente tem condições de atender, por isso, é importante reforçar que o atendimento é exclusivo para animais que não têm tutores”, ressalta o diretor.

ANIMAIS VÃO PARA ADOÇÃO

Os animais recuperados são encaminhados para o CRAR onde aguardam adotantes. Um novo desafio: muitos deles ficam com sequelas dos acidentes sofridos. No caso da Pitoca, uma das patinhas da frente precisou ser amputada. “Para nós, não faz diferença nenhuma. Levamos ela para todo canto”, conta Schelbauer.

As andanças resultaram em mais uma adoção, dessa vez feita pela própria cachorrinha. O tutor explica. “O Pupi estava em uma praça bem próxima de casa, onde é comum o abandono de animais durante à noite. A Pitoca o adotou”. A dupla hoje é inseparável.

Outra dupla unida são os gatinhos Marcelina e Francesco, adotados por Etiane Caloy Bovkalovski. A fêmea chegou à casa nova em setembro de 2020. “Ela não tem um bracinho e se supõe que foi atropelada por um trem”, conta Etiane. 

O irmão chegou dois meses depois, com uma das “perninhas” fraturadas. Também precisou amputar. “Mas até a rede de proteção tem que ser dupla, por que ‘seu Francesco’ começou a roer”, ri Etiane. A despeito do histórico e das sequelas, eles continuam brincalhões, inocentes e amorosos.

Francesco perdeu uma das patinhas ao sofrer um acidente (Arquivo Pessoal)

Os gatos são minoria nos atendimentos. 88% das ocorrências são relacionadas a cães. Atualmente, 105 animais estão no CRAR aguardando adoção. “Falta consciência da população. Tivemos um incremento grande no número de abandonos no período mais crítico da pandemia. O ideal – e nós trabalhamos para isso – é que não haja animais na rua”, alerta Edson.

Para adotar, é preciso apresentar alguns documentos e assinar um termo de responsabilidade. A ideia é garantir que os animais tenham, realmente, uma nova vida, com dignidade, conforto e cuidados. “Eles não têm culpa de nossas falhas, mas são os que sofrem mais”, reforça Schelbauer. 

COMO ACIONAR A AMBULÂNCIA PET

O veículo atende aos chamados feitos pela Central 156, todos os dias, das 7h30 às 16h30. Não é permitido o registro de chamadas anônimas e um número de telefone deve ser fornecido para que a equipe de triagem consiga obter maior detalhamento sobre a situação do animal.

Ao receber as solicitações, é estabelecida uma escala de urgência e prioridades. Os animais atendidos podem ser encaminhados para adoção, lares temporários ou devolvidos ao local de origem, caso não haja risco de um novo atropelamento.

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