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British Museum: de ícone cultural a piada de Natal

British Museum: de ícone cultural a piada de Natal

O Museu Britânico, um dos mais antigos e abrangentes do mundo, parece estar em constante crise de imagem, mas a chegada de 2024 pode significar o fim dessa “maldição” que paira sobre ele. Localizado em Holborn, zona central de Londres, o British Museum foi fundado em 1753 e abriga uma vasta coleção com mais de […]

Lorena Nogaroli - terça-feira, 2 de janeiro de 2024 - 20:23

O Museu Britânico, um dos mais antigos e abrangentes do mundo, parece estar em constante crise de imagem, mas a chegada de 2024 pode significar o fim dessa “maldição” que paira sobre ele. Localizado em Holborn, zona central de Londres, o British Museum foi fundado em 1753 e abriga uma vasta coleção com mais de oito milhões de objetos – entre eles a Pedra de Roseta, que foi crucial para decifrar hieróglifos egípcios, e os frisos do Partenon de Atenas. Os turistas podem desfrutar dos mais de 90 mil metros quadrados de história divididos em seis andares sem desembolsar nem um centavo, já que a entrada é totalmente gratuita. O notável acervo abrange mais de dois milhões de anos de história e cultura humana e recebe mais de seis milhões de visitantes todos os anos.

As polêmicas envolvendo o British Museum esquentaram em 2022, quando o Papa Francisco ordenou aos Museus do Vaticano a devolução de três peças do Partenon à Grécia. Essas esculturas de 2,5 mil anos estavam com o Vaticano há mais de 200 anos e voltaram à Grécia graças a uma campanha do governo grego para que as peças do seu edifício soberano fossem devolvidas.

Com a decisão do Papa Francisco, aumentou a pressão sobre a Grã-Bretanha para devolver também a parte dos tesouros do Partenon que está no British Museum. Mas, apesar das supostas “conversas secretas” mantidas entre o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, e o presidente do Museu Britânico, George Osbourne, e de relatos de que o museu está disposto a considerar o empréstimo das esculturas, pouco movimento real aconteceu para restituir os mármores ao Partenon.

De acordo com o porta-voz do primeiro-ministro Rishi Sunak, não há planos de mudar a lei, que impede a remoção de objetos da coleção do Museu Britânico, exceto em determinadas circunstâncias. Para o diretor da The Heritage Management Organization, Evangelos Kyriakidis, “ter um símbolo nacional grego num museu chamado Museu Britânico é totalmente errado. É como se as Jóias da Coroa estivessem na Grécia”, argumenta.

Saiba mais sobre a polêmica dos mármores do Partenon que estão em posse do British Museum.

Imperialismo e questão ética

Na realidade, o British Museum apresenta um número muito menor de peças britânicas que de outros lugares do mundo. Além dos mármores do Partenon (Grécia), ele abriga a Pedra de Roseta, o Zodíaco de Dendera, a estátua de Ramsés II e muitas múmias (Egito), a Tabuleta de Ciro (Irã), Bronzes de Benin (Nigéria), o Moai da Ilha de Páscoa (Chile), a Pedra de Assurbanípal (Iraque), entre outros objetos igualmente importantes para a história da humanidade. Alguns deles, inclusive, coletados ou adquiridos de colônias britânicas durante o auge do imperialismo no Reino Unido, levantando questões éticas sobre a maneira como foram obtidos.

Diversos países e comunidades argumentam que esses artefatos foram retirados de suas regiões de origem de maneira não ética, muitas vezes por meio de expedições militares ou práticas que hoje seriam consideradas inaceitáveis. Como resultado, há pedidos para a restituição dessas peças aos países de origem, buscando corrigir as injustiças históricas e devolver a herança cultural a seus locais originais.

Roubo vira escândalo no verão…

A grande crise que assolou o British Museum e culminou na demissão do diretor da instituição, no entanto, aconteceu em agosto de 2023, com o escândalo do roubo de mais de 1,5 mil peças de dentro do museu por um de seus funcionários. Entre os objetos roubados estavam joias de ouro e pedras preciosas datadas dos séculos 15 a.C. a 19 d.C.

Christos Tsirogiannis, arqueólogo forense que preside um grupo da Unesco dedicado ao tráfico ilícito de antiguidades, descreveu o escândalo dos tesouros desaparecidos como o pior da história moderna. “É de longe o maior roubo que conheço em um museu, especialmente para um [museu] deste calibre. É uma quantidade enorme para qualquer museu, mas o que acontece no Museu Britânico torna tudo ainda pior”, ressaltou o arqueólogo.


O Museu Britânico já sofreu outros roubos antes. Em 2002, ele lançou uma revisão de segurança depois que uma estátua grega de 2,5 mil anos foi roubada por um visitante, que simplesmente pegou a cabeça de mármore de 12cm de altura e saiu sem ser detectado.

Na época, o museu disse que nenhum guarda fixo estava de plantão na Greek Archaic Gallery, área do museu de onde a estátua foi roubada. Disse, ainda, que revisou a segurança de suas coleções e investiu significativamente depois que um anel Cartier no valor de 750 mil libras (aproximadamente R$ 4,7 milhões) desapareceu de sua coleção de ativos patrimoniais.

…e piada de Natal no inverno

Quando o assunto sobre o roubo estava saindo da mídia, um concurso de piadas natalinas trouxe à tona a má fase do British Museum, que se tornou a piada de Natal mais popular do ano.

A competição anual, encomendada pelo canal de televisão Gold, pede às pessoas que publiquem suas piadas festivas no X (antigo Twitter) e escolhe a melhor delas com votação feita pelo público britânico.

A piada vencedora de 2023 foi escrita por Chris Douch, de Oxfordshire, que fez um trocadilho com a palavra “Stollen”: “Did you hear about the Christmas cake on display in the British Museum? It was Stollen. (Você ouviu falar do bolo de Natal em exibição no Museu Britânico? Foi roubado.)

O Stollen é um tipo de pão de frutas alemão tradicionalmente associado ao período de Natal. No entanto, o trocadilho se dá porque a palavra “Stollen” soa como “stolen” em inglês, que significa “roubado”. Assim, a piada brinca com a ideia de um bolo de Natal roubado ou “em exibição” no Museu Britânico, usando o trocadilho entre as palavras.

Sabe da última?

A mais recente polêmica ocupou a mídia dias antes da virada do ano. O museu fechou um acordo que ficou conhecido como a maior doação corporativa já feita no setor artístico do Reino Unido. A gigante petrolífera BP vai doar ao Museu Britânico £50 milhões (mais de R$ 300 milhões) para um projeto de renovação das instalações, o que tem gerado grandes protestos e barulho por parte de ativistas ambientais que não querem ver a arte atrelada aos combustíveis fósseis.

O financiamento já se revelou controverso no próprio museu. Antes do fim do ano, uma administradora, a emissora Muriel Gray, renunciou ao cargo em protesto contra o futuro patrocínio da petrolífera.

Enquanto o British Museum não sai dos tabloides britânicos, os mármores gregos ainda estão em exposição, e a visita ainda é gratuita, com certeza ele é uma das atrações imperdíveis de Londres.

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