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Distúrbios de sono em crianças têm relação  com saúde bucal
Laísa Queiroz/Ministério da Saúde

Distúrbios de sono em crianças têm relação com saúde bucal

Um artigo da UFPR confirmou a relação da qualidade do sono e alterações bucais; entenda

Mirian Villa - quinta-feira, 2 de novembro de 2023 - 13:15

Um artigo da UFPR (Universidade Federal do Paraná) detalha que a dor de dente e o desconforto dentário estão associados a uma maior prevalência de distúrbios do sono em crianças. Uma pesquisa do Ministério da Saúde apontou que 66% de meninos e meninas de 12 apresentam dor de dente e necessidade de tratamento.

A intensidade de dor grau cinco (a maior da escala) foi vista em 27,5% dos entrevistados. Além de atrapalhar qualquer atividade do cotidiano, o desconforto dentário também pode ter impacto na hora do descanso.

Por isso, o estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de distúrbios do sono em crianças brasileiras entre quatro e cinco anos de idade a partir do relato dos pais sobre desconforto e dor dentária. A pesquisa transversal – cuja coleta de dados é feita em um momento e em um local específicos – foi realizada na cidade de Itajaí, em Santa Catarina, com 604 crianças em fase pré-escolar, matriculadas em escolas municipais. 

Vinte e um por cento das crianças apresentavam distúrbios respiratórios do sono, como apneias. Outras 19% tinham transtornos da transição sono-vigília, quando se tem sono muito mais cedo ou muito mais tarde do que o exigido pelo ambiente e 13% suavam excessivamente dormindo.

Já sobre o sinal indicativo de dor e de desconforto dentário, mais de 350 crianças apresentavam pelo menos uma indicação. Também foi observado que 8% dos participantes necessitavam tratamento odontológico mais invasivo. 

Os pesquisadores da UFPR ainda realizaram uma avaliação clínica dentro do ambiente escolar para examinar a saúde bucal das crianças. Foi observado que 42% dos participantes apresentavam pelo menos um dente cariado e que a média de dentes afetados pela cárie chegava a quase dois. Além disso, 8% tinham ao menos um dente com lesões, pus, fístulas ou envolvimento pulpar. 

Saúde bucal e problemas no sono das crianças

O artigo foi publicado no periódico European Archives of Paediatric Dentistry, da Springer Nature e confirmou a hipótese de que a dor de dente e o desconforto estão associados a uma maior prevalência de problemas no sono de crianças.

De acordo com uma convergência de dados entre respostas aos formulários e análise clínica, 72% das crianças que apresentavam dor dentária também apresentavam algum distúrbio do sono. A mesma porcentagem foi observada na relação entre desordens em iniciar e em manter o sono e dor dentária.  

“Os resultados evidenciaram que crianças que tiveram problemas de dor de dente recente têm mais chances de desenvolver distúrbios de sono como hiperidrose e parassonias, como sonambulismo ou pesadelos”, destaca Bruna Luiza Maximo Ramos, pesquisadora egressa da pós-graduação em Odontologia da UFPR.

Entre aqueles que apresentaram problemas de amígdala ou de adenoide, 70% tinham algum distúrbio do sono. Do total de 64 crianças que possuem esse problema, 56% tinham distúrbio de transição do sono. O estudo ainda revelou que entre as crianças que dormiam de boca aberta, 76% possuíam algum distúrbio do sono.

Divulação/UFPR

Pais e responsáveis precisam ficar atentos aos sinais

As doenças e as alterações bucais podem impactar negativamente a qualidade do sono, da mesma forma que determinados distúrbios podem ter influência na condição bucal. “Alguns estudos mostram o impacto negativo da condição bucal como cárie dentária, dor e desconforto de origem dentária e até a presença de alterações, como mordida aberta, na qualidade do sono, assim como há dados sobre o impacto de distúrbios do sono na ocorrência de bruxismo do sono ou vice-versa”, detalha a co-orientadora da pesquisa, professora Juliana Feltrin de Souza.

Dentre as medidas de cuidado, observar as alterações bucais ou comportamentos da criança durante as refeições pode contribuir para identificar problemas. Segundo os cientistas, a demora na alimentação, evitar a utilização dos dentes da frente para morder e levar as mãos à boca com frequência podem ser sinais de problemas. 

Colaboraram com o estudo Aline Midori Batista Umemura; o orientador José Vitor Nogara Borges de Menezes; e a co-orientadora Juliana Feltrin de Souza, ambos professores do Departamento de Estomatologia da UFPR; além do professor Oliviero Bruni, da Universidade Sapienza de Roma (Itália).  

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