Economia
Supermercados pedem que governo inclua cesta básica na redução de ICMS

Supermercados pedem que governo inclua cesta básica na redução de ICMS

Entidade que representa varejistas do país diz que irá a repassar ao consumidor qualquer redução que houver na cadeia produtiva.

Ana Paula Branco - Folhapress - sexta-feira, 10 de junho de 2022 - 09:13

A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) afirmou nesta quinta-feira (9) que propôs ao governo Bolsonaro a isenção de impostos dos produtos da cesta básica e a desoneração da folha de pagamentos.

No Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, promovido pela Abras nesta quinta, o presidente da associação, João Galassi, solicitou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a inclusão do ICMS sobre a cesta básica no texto que trata da redução do tributo sobre combustíveis.

A representante de mais de 50 varejistas do país diz que irá a repassar ao consumidor qualquer redução que houver na cadeia produtiva.

A manifestação veio em resposta ao pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de Guedes para supermercados reduzirem o lucro sobre a cesta básica como forma de conter a alta dos preços.

O ministro afirmou que o governo vem promovendo cortes de impostos para tentar conter os preços e que “os governadores têm de colocar a mão no bolso e ajudar o Brasil”. Ele também reforçou o apelo de Bolsonaro e pediu aos empresários uma trégua na alta de preços.

O pedido é absurdo e incompatível para um chefe de estado, afirma o coordenador de IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), André Braz.

“Todo supermercado vive pelas leis de mercado, da oferta e da procura. Ele é um revendedor, praticamente não fabrica nada. Se compra uma mercadoria mais cara, por culpa de outros fatores que não têm a ver com o lucro dele, ele também não pode vender mais barato do que ele compra”, diz Braz.

“O supermercado também é responsável pela geração de empregos e renda. E um negócios desses não funciona comprando caro e vendendo barato”, afirma o economista.

O economista Leandro Rosadas, dono de dez mercados em cinco estados, diz que a solução é ter algum tipo de incentivo às indústrias e ao agronegócio, para que na cadeia produtiva o produto chegue mais barato ao supermercado.

“Os supermercados hoje não estão repassando todos os aumentos que estão vindo da indústria. Só para ter uma noção, em alguns lugares do país o leite já está chegando a R$ 5,30. Como que o supermercado vai conseguir vender a quatro e pouco? É impossível. O supermercado vai vender a R$ 5,99 e, mesmo assim, com uma margem infinitamente baixa”, afirma Rosadas.

“Inclusive os consumidores que conseguirem achar leite mais barato, estoquem, porque o item vai ficar mais caro”, diz o empresário.

Essa não é a primeira vez que o presidente, pressionado pela inflação, repassa a cobrança ao setor.

Em setembro de 2020, um dia após os supermercados alertarem sobre uma alta de 20% no preço dos alimentos que compõem a cesta básica e demandarem uma solução do governo, Bolsonaro pediu “patriotismo” aos varejistas para evitar o repasse ao consumidor.

O primeiro apelo não surtiu efeito. A inflação dos alimentos continuou a subir e, mesmo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) apresentando ligeira desaceleração em maio deste ano, os preços do grupo alimentos e bebidas seguem em alta.

Conforme divulgado pelo IBGE nesta quinta, entre os 377 produtos e serviços que compõem o índice, a maior alta mensal foi a da cebola (21,36%).

Já a cenoura e o tomate tiveram queda intensa nos preços, após a disparada nos primeiros meses de 2022, o que elevou a base de comparação.

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