Economia
Dólar tem forte alta e Bolsa cai com mercado avaliando composição do governo Lula

Dólar tem forte alta e Bolsa cai com mercado avaliando composição do governo Lula

A composição do governo do presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está entre os pontos que recebem atenção de investidores.

Folhapress - terça-feira, 27 de dezembro de 2022 - 13:48

A Bolsa de Valores brasileira operava em acentuada queda, enquanto o dólar registrava forte alta frente ao real nesta terça-feira (27), assim como os juros futuros também subiam.

Os indicadores demonstravam a continuidade de um movimento de aversão aos investimentos de risco iniciado na véspera, quando a sessão foi marcada pela expectativa de avanço da inflação no próximo ano após a divulgação do último relatório Focus do Banco Central.

A composição do governo do presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está entre os pontos que recebem atenção de investidores nesta terça, sobretudo após a confirmação de que a senadora Simone Tebet (MDB-MS) decidiu aceitar assumir o Ministério do Planejamento e Orçamento, mas sem a possibilidade de que a pasta abrigasse também bancos públicos, como havia sido inicialmente cogitado.

No noticiário sobre o exterior, a expectativa do fim da quarentena da Covid para viajantes que chegarem à China a partir da segunda semana de janeiro favorece ganhos no setor de matérias-primas.

Às 11h15, o dólar à vista subia 1,38%, cotado a R$ 5,28 na venda. Na segunda-feira (26), a moeda americana fechou com alta de 0,81%.

No mercado de ações nesta terça, o índice parâmetro da Bolsa de Valores brasileira caía 0,78%, aos 107.888 pontos. Na véspera, o Ibovespa recuou 0,87%.

Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, avalia que, após uma abertura em leve alta impulsionada pelas notícias sobre a reabertura da China, a política doméstica entrou no foco dos investidores porque houve a quebra da expectativa de que os bancos públicos poderiam ficar sob a influência de Tebet, cuja visão da economia é considerada mais próxima do mercado.

“É difícil afirmar que esse seja o único fator, mas acredito que isso possa ter contribuído com essa virada de chave no mercado”, diz.

Alves também destacou que o potencial aquecimento da economia chinesa com a queda de restrições contra a Covid, apesar de positivo para o setor de commodities da Bolsa, tende a provocar temor quanto ao avanço da inflação global, afetando negativamente empresas mais sensíveis às altas dos preços ao consumidor e ao encarecimento do crédito.

No mercado de juros futuros, os contratos com vencimentos para os próximos apresentavam altas generalizadas. A taxa DI (Depósito Interbancário) para 2025 passava de 12,95% para 13,02%, enquanto a de 2027 avançava de 12,91% para 12,98%. Negociada apenas entre instituições financeiras, a taxa de juros DI serve de referência para esse mercado.

Na segunda-feira, câmbio e Bolsa foram pressionados pelo aumento das expectativas para altas da inflação e dos juros, em uma sessão também afetada pelo baixo volume de negociações porque os mercados dos Estados Unidos e da Europa permaneceram fechados devido ao feriado estendido de Natal.

No mercado de juros futuros, a taxa DI, que reflete os empréstimos negociados entre instituições financeiras e serve de referência para o setor de crédito, apresentou elevações para os contratos com vencimentos nos prazos curtos e médios.

Segundo analistas, a razão para essa alta foi o relatório Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda (26). A pesquisa apontou que o mercado elevou sua projeção para a taxa básica de juros (Selic) em 2023, prevendo que ela fechará o ano em 12%, superando os 11,75% previstos há uma semana.

Há expectativa de que o Banco Central terá menos espaço para reduzir o aperto monetário após fechar este ano com a taxa em 13,75%.

O boletim também indicou uma elevação marginal das projeções para a inflação no ano que vem, para 5,23%. Antes, era de 5,17%. O teto da meta para 2023 é de 4,75%. A projeção para os preços administrados no período subiu de 6,23% para 6,53%. Para 2024, a expectativa para o IPCA aumentou de 3,50% para 3,60%.

Étore Sanchez e André Coelho, da Ativa Investimentos, avaliaram que o último Focus do ano, após a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Gastança ter sido aprovada, registra uma “piora significativa da conjuntura”.

Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, reforçou que a divulgação do boletim Focus trouxe preocupações aos investidores ao projetar para 2023 uma inflação levemente superior à do último boletim, o que colaborou para a alta dos juros futuros.

Cardozo disse, porém, que o bom desempenho do setor da Bolsa ligado à exportação de minerais metálicos evitou uma queda maior do Ibovespa.

Entre as notícias que podem favorecer a valorização de matérias-primas importantes para exportadores com presença na Bolsa do Brasil, como é o caso do minério de ferro explorado pela Vale, o destaque é o comunicado desta segunda de autoridades de saúde da China.

A agência Reuters reportou que Pequim deixará de exigir quarentena para viajantes que chegarem ao país a partir de 8 de janeiro.

Além disso, o país havia anunciado mais cedo que pretende adotar regras menos rigorosas para o tratamento de pacientes, o que, segundo reportou o The Wall Street Journal, é um claro sinal de que Pequim realmente acabará com a quarentena.

Sem negociações nesta segunda, o preço do barril do petróleo Brent subiu 2,94% na última sexta-feira (23), cotado a US$ 83,92 (R$ 435,25). O Brent serve de referência para os preços praticados por empresas do setor no Brasil, como a Petrobras.

A agência de notícias Bloomberg atribuiu a alta da matéria-prima a ameaças da Rússia de que poderá cortar sua produção em pleno inverno no hemisfério Norte.

O corte seria uma resposta do governo de Vladimir Putin à limitação de preços à mercadoria russa imposta pelo Ocidente como uma forma de sanção pela Guerra da Ucrânia.

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