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Reino Unido é o melhor país para morrer; Brasil, o terceiro pior
(Reprodução: Highgate Cemetery, Londres)

Reino Unido é o melhor país para morrer; Brasil, o terceiro pior

Saiba quanto custa morrer na terra do Big Ben

Lorena Nogaroli - quarta-feira, 1 de novembro de 2023 - 14:02

O Reino Unido foi considerado o melhor país para passar os momentos finais da vida, seguido pela Irlanda, Taiwan e Austrália. O estudo, conduzido por 181 pesquisadores e divulgado pelo Journal of Pain and Symptom Management, comparou 81 países. Concluiu-se que o Brasil é o terceiro pior país para morrer, ficando à frente apenas do Paraguai e do Líbano. Com uma pontuação final média de 38,7, a qualidade dos cuidados terminais no Brasil recebeu nota “F” – a pior possível – ficando atrás do Haiti, considerada a nação mais pobre das Américas.

Entre os critérios utilizados na pesquisa, estão a expectativa de vida média, os gastos com saúde, a existência de campanhas nacionais de sensibilização da população para os cuidados no fim da vida, programas governamentais de acesso à saúde, a limpeza, a segurança e o conforto dos locais de atendimento à saúde, o suporte psicológico e o controle da dor, bem como o incentivo ao contato dos pacientes com amigos e familiares. Ao final do estudo, foi feita uma média ponderada para calcular a qualidade de morte nos países, que variou de “A” a “F”.

Crise faz britânicos repensarem a morte

No entanto, para aqueles que não desejam desembolsar um rio de dinheiro, não é uma boa ideia morrer no Reino Unido. A crise econômica que abala o país desde a sua saída da União Europeia afetou não apenas o custo de vida dos britânicos, mas também o custo de morte. Há um número crescente de pessoas pobres demais para morrer, devido aos altos preços dos funerais e impostos relacionados ao processo. Isso faz com que muitos se sintam incapazes de escolher o tipo de funeral que desejam. No ano passado, 19% das famílias britânicas enfrentaram dificuldades financeiras ao pagar pela última despedida, e a maioria delas recorreu a poupanças e investimentos, empréstimos ou cartões de crédito para cobrir os custos.

De acordo com a Sun Life, o custo total da morte, incluindo funeral, despedida e honorários profissionais no Reino Unido aumentou 3,8% desde 2021, subindo de £ 8.864 para £ 9.200 (quase R$ 60 mil). Desde 2008, o custo da morte aumentou cerca de £ 2.500 no país.

Embora muitas pessoas deixem provisões para o seu próprio funeral, o estudo revelou que 41% delas não conseguem reservar fundos suficientes para cobrir a despesa total, deixando dívidas para a família sobrevivente. Muitos também se assustam quando descobrem que os planos funerários, na verdade, cobrem apenas uma parte dos gastos, como o custo do caixão e do agente funerário, além de um subsídio para cobrir despesas de terceiros, como taxas de cremação, honorários médicos, comparecimento de um celebrante ou ministro, e abertura da sepultura no cemitério. No caso de um enterro, por exemplo, o plano não inclui o valor do terreno ou da lápide, assim como não cobre os custos do velório ou das flores.

Nesta reportagem, o The Telegraph destaca seis custos ocultos que podem passar despercebidos ao lidar com a morte no Reino Unido. “Encarar questões financeiras depois que alguém faleceu pode tornar uma situação terrível ainda mais difícil”, afirma a publicação.

Os custos dos enterros são mais que o dobro do valor das cremações na maioria das cidades do Reino Unido. Por isso, no ano passado, apenas 25% dos falecidos foram enterrados, enquanto quase 60% foram cremados. Em Londres, as tarifas são ainda maiores do que nas demais cidades do país. Para se ter uma ideia, só o valor do terreno no cemitério de Highgate chega a aproximadamente £ 16,5 mil (cerca de R$ 105 mil), sem contar os custos da cova e o serviço do coveiro.

Sustentável e econômica, cremação na água é última tendência na hora da morte

As práticas funerárias comuns deixam uma pegada significativa de carbono. Esta reportagem da BBC revela os impactos dos funerais para o meio ambiente. Uma cremação típica no Reino Unido, por exemplo, é alimentada a gás e estima-se que produza 126 kg de emissões CO2 – o equivalente a dirigir um carro a gasolina por mais de cinco horas.

Enterrar um corpo não é uma alternativa muito melhor. Frequentemente, são usados fluidos de embalsamamento altamente tóxicos, como o formaldeído, que infiltrados no solo junto com metais pesados, prejudicam ecossistemas e poluem o lençol freático.

Dentre inúmeras soluções ecológicas que surgiram nos últimos anos, a “cremação aquática” (também conhecida como “aquamação”, “hidrólise alcalina” ou “ressomação”) parece ser a grande tendência no Reino Unido, sendo anunciada em 2023 pela maior provedora de serviços funerários do país, a Co-op Funeralcare. Nos últimos 12 anos, mais de 20 mil pessoas foram cremadas dessa maneira na água, principalmente nos Estados Unidos. O método ganhou destaque com a morte do arcebispo sul-africano Desmond Tutu, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, que escolheu essa alternativa para seu funeral, em dezembro de 2021.

A técnica de aquamação produz um terço menos gases de efeito estufa do que uma cremação tradicional e utiliza menos de um quinto da energia, de acordo com a empresa britânica Resomation. No processo, o corpo é inserido em uma bolsa biodegradável e colocado em um recipiente com água pressurizada e hidróxido de potássio (soda cáustica). As máquinas de ressomação trabalham bombeando o fluido alcalino aquecido a cerca de 150°C ao redor do corpo por um período de quatro a seis horas, acelerando exponencialmente o processo natural de decomposição.

Ao final do ciclo, restam apenas ossos e implantes não orgânicos. Os ossos são secos, esmagados e devolvidos à família em uma urna. O único subproduto da aquamação é um líquido não tóxico e estéril, que pode ser reciclado. Não há emissões para o solo ou para o ar.

Além de ser uma opção favorável para o ambiente, a cremação aquática favorece o bolso – o custo é semelhante ao da cremação tradicional (cerca de £ 1.200 ou R$ 7.375). Este vídeo (em inglês) mostra como funciona o processo.

Turismo de cemitério: saiba onde os famosos estão enterrados no Reino Unido

O Reino Unido possui alguns dos cemitérios e tumbas mais famosos do mundo, gerando movimento turístico de pessoas que desejam visitar o ídolo, mesmo após a morte. Existem, inclusive, excursões a esses locais. Na verdade, os britânicos veem esses espaços diferentemente dos brasileiros. É quase como um parque: eles contemplam, passeiam, praticam esportes, leem livros… Esta reportagem mostra cinco motivos para visitar os cemitérios de Londres. Veja abaixo algumas personalidades que estão enterradas no Reino Unido e onde encontrá-las.

Inglaterra:

  1. Highgate Cemetery, Londres – Karl Marx.
  2. Abadia de Westminster, Londres – calcula-se que cerca de 3.330 pessoas estão enterradas ali, incluindo 18 monarcas britânicos, alguns grandes nomes da história, como Charles Dickens, Rudyard Kipling, Henry Purcell, Oliver Cromwell, oito primeiros-ministros, além de cientistas como Isaac Newton, Charles Darwin e Stephen Hawking.
  3. Kensal Rise, Londres – Freddie Mercury.
  4. West Cemetery, Londres – George Michael.
  5. Leytonstone Cemetery, Londres – Alfred Hitchcock.
  6. Chapel Royal of St. Peter ad Vincula, Londres – Anne Boleyn e Thomas More.
  7. Holy Trinity Church, Stratford-upon-Avon – William Shakespeare.
  8. St. Peter’s Churchyard, Bournemouth – Mary Shelley.
  9. Bladon, Oxfordshire – Winston Churchill.
  10. St. Mary Magdalene, Hucknall – Lord Byron.
  11. All Saints’ Churchyard, Sutton Courtenay – George Orwell.

Escócia

  1. Graveyard Greyfriars Kirk, Edimburgo – Greyfriars Bobby, um famoso cão leal que inspirou livros e filmes em todo o mundo.
  2. St. John’s Cemetery, Edimburgo – Joseph Bell, que inspirou o personagem Sherlock Holmes.
  3. Dumfries St. Michael’s Churchyard, Dumfries – Robert Burns.

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