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O Natal é para todas!

O Natal é para todas!

Que possamos pensar de maneira plural dentro de nossas famílias fazendo com que os momentos de alegria e descontração não sejam só para nós, mas para elas também!

Daiana Allessi - quinta-feira, 22 de dezembro de 2022 - 09:00

No próximo final de semana o Natal será celebrado por inúmeras famílias, independentemente da matriz cristã que está atrelada à data. 

O Natal virou símbolo de comemoração, reunião entre famílias e amigos, shopping lotado, decorações natalinas e comilança, com a ceia do dia 24 e almoço do dia 25 ou, pelo menos, uma refeição diferente da usualmente consumida.

Adoro o Natal, tenho muitas memórias afetivas e tento construir lembranças felizes com meus filhos, contudo, além das lembranças felizes a maturidade desenterrou outras tantas lembranças não tão felizes e animadas. Explico.

Embora o Natal fosse uma data super esperada, pelo menos para mim, (confesso que ainda é), tenho muito vivas dentro de mim as reclamações da minha avó que protestava por ter que preparar a ceia sozinha após voltar da feira pois, ela e meu avô, além de lavradores eram feirantes. Confesso que ainda consigo sentir o cheiro do peru super recheado que ela preparava, e hoje entendo o reclamo da minha avó em relação à sobrecarga.

Minha mãe tampouco escapou da organização dos almoços do dia 25, que faziam suar seu rosto maquiado para a missa matutina de Natal e estragavam o esmalte de suas unhas, pois, cozinhar sozinha para várias pessoas não era tarefa fácil. Isso sem contar a montagem da árvore, desemaranhar o pisca-pisca e pendurá-lo na janela, comprar os presentes, ajeitar a casa entre outras tarefas típicas dessa época festiva que unilateralmente foram atribuídas a ela, como uma espécie de herança negativa.

Quando ressalto essa “herança negativa” apenas tento jogar luz à intensidade da exaustão e da solidão das mulheres, temas que já tratei em colunas anteriores, principalmente, porém, não somente, nas festas de final de ano. Essas mulheres que se ocupam de tudo ou quase tudo nesse período de alegria e confraternização também querem participar da festa.

Não quero e não posso generalizar, pois, sei que muitos homens participam e se responsabilizam por várias atividades extras próprias desse período eu tive sorte pois aqui em casa não posso reclamar de exaustão ou sobrecarga natalina, (meu marido faz sua parte e o faz lindamente com as crianças), porém, na maioria dos lares, essa função acaba sendo naturalizada como essencialmente da mulher.

Não me entendam mal, amo as festividades de final de ano e não vejo problema se as mulheres desejarem a responsabilização exclusiva em relação aos preparativos festivos. Mas percebam que, como sempre ressalto, há opção, há escolha e está tudo bem.

A reflexão fica para as famílias que nem sequer cogitam dividir tarefas e apenas sentam à mesa na noite do dia 24 ou no almoço do dia 25 e esperam serem servidos pela mulher, ou pelas mulheres da sua casa.

Se o Natal é tempo de união, de alegria e renascimento que seja um tempo de mudança, inclusive dentro de nossas casas. Que a ceia seja leve, alegre e feliz para todos e todas que dela participarem e que de fato participem, não só com a fome e a extroversão típica do feriado, mas com noção, respeito e vontade de que nesse ou no próximo festejo natalino as tarefas sejam divididas e o espírito do Natal possa de fato se fazer presente em nossas famílias, lugar de intimidade, amor e igualdade.

Aos que professam a fé cristã lembrem que o aniversariante da noite de Natal veio ao mundo por uma mulher, assim como todos nós que aqui estamos pela escolha de uma mulher em nos dar à luz. 

Que possamos entender que escolher e decidir também é próprio do feminino e que se o Natal é tempo de alegria que seja para todos e para todas.

Fica a dica!

Desejo um feliz e alegre Natal para vocês!


Daiana Allessi é mãe, esposa, advogada, professora e pesquisadora sobre gênero e direitos das mulheres.

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