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O levante dos posseiros e a reforma agrária no Sudoeste do Paraná

O levante dos posseiros e a reforma agrária no Sudoeste do Paraná

Deni Schwartz fala no Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, sobre a colonização no sudoeste paranaense e o conflito dos posseiros.

Pedro Ribeiro - terça-feira, 9 de maio de 2023 - 19:23

Em um pequeno e antigo prédio edificado na rua José Loureiro, 43, entre as duas Desembargador Westphalen e Dr. Murici, no centro de Curitiba, encontramos o coração e a alma da história e memória do Paraná:  Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, fundado em 1900. Ali se guarda, estuda e debate a história do nosso Estado.

Nesta terça-feira, 09, mais de 100 pessoas – a maioria com cabelos brancos – ouviram, atentamente, relatos desenhados com pena branda sobre a história, os conflitos, o crescimento e desenvolvimento da região Sudoeste do Paraná, feitos pelo engenheiro Deni Schwartz. 

Se a região era, nas décadas de 1950 e 1960 um grande número de pontos brancos no desenho do mapa do Paraná, a partir da Serra da Esperança, hoje é uma das mais desenvolvidas e consequentemente ricas do Estado do Paraná. 

Para se chegar a este estágio de desenvolvimento, a região Sudoeste passou por uma série de problemas, entre eles, o “Levante dos Posseiros”, onde colonos, armados de paus, enxadas e foices, enfrentaram as poderosas companhias que queriam se instalar no cobiçado pedaço de terra que, por pouco, não foi anexado à Argentina, como relatou Schwartz. 

Este intenso conflito pela posse da terra nas localidades chamadas de gleba das Missões e Chopim, iniciado em 1957, envolvendo companhias colonizadoras, governo e posseiros, teve um vitorioso: os colonos. Uma das poucas revoluções brasileiras envolvendo terras em que pobres saem ganhando, como publicou o escritor Roberto Gomes em seu livro “Dias do Demônio”. 

Além dos posseiros, esta história de conflito pela posse da terra, tem um protagonista: Deni Lineu Schwartz. Com a vitória dos posseiros, foi criada o Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná – GETSOP- que acabou se transformando em uma “reforma agrária”.

“Como um dos executivos do grupo, Deni Schwartz foi a campo, fez as medições, demarcou terras, construiu estradas e foi o responsável por esta autêntica transformação no campo, levando a paz social às famílias que efetivamente trabalhavam a terra”, conta o presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, desembargador, Paulo Roberto Hapner.

Segundo o anfitrião, “Deni fez um verdadeiro e relevante depoimento sobre aspectos desconhecidos sobre a colonização da região Sudoeste”, pontuou Hapner. Foram distribuídos títulos de terras a 42 mil pequenos agricultores e desinstaladas dezenas das 156 serrarias ilegais que operavam na região, afirmou.

Esta chamada “reforma agrária” foi uma das mais bem-sucedidas intervenções do Estado na resolução dos problemas de colonização, onde as terras eram distribuídas para companhias e particulares.

A sensibilidade em resolver a questão dos conflitos na região, teve a intervenção decisiva do então governador Ney Braga, disse Deni Schwartz, satisfeito com a oportunidade que teve em falar a historiadores sobre a importância da região Sudoeste.

O papel dos governos na solução 

A solução para o problema fundiário aconteceu a partir de 1961, o presidente Jânio Quadros assinava decreto desapropriando as terras em litígio no Sudoeste do Paraná. Os governos federal e estadual desistiam de seus direitos jurídicos sobre essas glebas. A solução definitiva ocorreu a partir de 1962. Sob a presidência de João Goulart, foi criado o GETSOP, Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná, ligado diretamente à Presidência da República.

O engenheiro Deni Schwartz, o GETSOP regularizou e titulou 32.256 lotes rurais e 24.661 urbanos. Somente 4 propriedades não foram tituladas, porque os vizinhos não entraram num acordo. Quer dizer, praticamente todas as propriedades foram regularizadas, respeitando-se a posse anterior que cada colono ocupara. O GETSOP atuou até 1973, como relatou Edvino Vorpagel sobre a revolta dos posseiros do Sudoeste.

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