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O autocuidado e os cânceres ginecológicos

O autocuidado e os cânceres ginecológicos

A prevenção ao câncer passa pelo autocuidado e as mulheres precisam estar atentas e conscientes para que, saudáveis, possam viver em plenitude

Daiana Allessi - quinta-feira, 1 de dezembro de 2022 - 15:00

Outubro rosa e novembro azul terminaram, mas a conscientização deve persistir. As campanhas de prevenção ao câncer de mama e ao câncer de próstata são ações importantes no combate ao problema de saúde pública que o câncer se tornou.

Dia 27 de novembro foi Dia Nacional de Combate ao Câncer, e considerei importante reforçar a necessidade de que todos e todas realizem os exames preventivos, pois o autocuidado é o caminho para um tratamento efetivo quando a doença é descoberta no início.

E para falar com mais propriedade sobre autocuidado e os cânceres ginecológicos, tive uma conversa muito fluida e interessante com a Dra. Audrey Tsunoda, médica-cirurgiã oncologista (www.audreytsunoda.com) que esclareceu dúvidas e agregou conhecimento sobre a importância da prevenção e da necessidade das mulheres se conhecerem e se ajudarem para então, saudáveis, conseguirem ajudar as pessoas que estão à sua volta.

Afinal, quem cuida de quem cuida?

Pergunta meio clichê, mas de absoluta relevância quando se fala em autocuidado feminino.  A Dra. Audrey, pioneira em cirurgia robótica para tratamento dos cânceres ginecológicos, contou que a pandemia impactou nos exames preventivos bem como na vacinação de meninos e meninas em idade entre 09 e 14 anos para o HPV (que causa câncer de colo de útero)

Perguntei a ela quais os tipos de câncer com maior incidência em mulheres e relatou que fora o câncer de pele, que é o tumor que mais atinge tanto homens quanto mulheres, os cânceres femininos mais frequentes são os de mama, intestino, pulmão e colo uterino e que embora sejam doenças preveníveis, até 2028, o câncer pode superar os casos de doenças cardiovasculares que atualmente são as que mais matam.

Nós duas concordamos que o papel social das mulheres como cuidadoras interfere nas práticas do autocuidado, e consequentemente, as expõem aos tumores ginecológicos que sem prevenção e exames acabam sendo descobertos em fases já avançadas que, além de dificultar o tratamento, podem causar a morte.

Desmitificar os exames preventivos e sobretudo a vacinação, a exemplo do HPV, é um caminho para diminuirmos a incidência do câncer do colo do útero, e essa luta depende da conscientização tanto dos homens como das mulheres. Percebam que a cobertura para a vacinação contra o HPV, caiu drasticamente no Paraná após a pandemia, sendo que se estima que a primeira dose tenha sido aplicada em apenas 30% da população e a segunda em somente 15%. 

A especialista frisou que a conscientização e vacinação são importantíssimas para o combate e a erradicação desse câncer, citando que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem a pretensão de acabar o câncer de colo até o ano de 2030, mediante vacinação geral, exames preventivos regulares e tratamento das lesões precursoras, e que embora seja uma iniciativa ótima, efetivá-la não será tarefa fácil pois a população ainda não se conscientizou da importância das vacinas e dos exames.

Quando conversamos sobre políticas públicas brasileiras em matéria de saúde, Dra. Audrey agregou dados interessantes ao esclarecer que no Brasil a oferta para exames preventivos aos cânceres ginecológicos é muito boa, mas a rede de atendimento é um fator que dificulta o tratamento após a descoberta da doença.

Contou também que na contramão de países europeus, nos quais o rastreamento aos cânceres é organizado, ou seja, compulsório, no Brasil a oferta é oportunística, não há obrigatoriedade dos exames preventivos, o que se torna um fator negativo nas campanhas de conscientização, no diagnóstico precoce e no tratamento do câncer.

Ao falar sobre as cirurgias, Dra. Audrey esclareceu que o Brasil é um dos líderes mundiais no tratamento aos tumores ginecológicos, notadamente do campo das cirurgias robóticas, contudo, devido ao custo e a tabela defasada do SUS, não há cobertura para esse tipo de cirurgia que é considerada minimamente invasiva.

Então, não me contive e perguntei sobre o necessário viés de gênero no tratamento aos cânceres ginecológicos, que mais que uma doença do corpo, afeta de maneira muito dolorosa o psicológico feminino, que fica fragilizado, devassado em sua intimidade e feminilidade. De pronto, Audrey, médica de uma sensibilidade incrível, disse que olhar para essas pacientes oncológicas de maneira diferenciada é imprescindível, acolhê-las e fortalecer seu corpo e mente são atitudes que favorecem a cura.

E a pouca participação feminina nos espaços de poder e decisão, seja na política, seja nas instâncias médicas, contribui para o desamparo dessas mulheres que são submetidas a tratamentos dolorosos, invasivos e que deixam muitas sequelas, quando poderiam ter um maior suporte, inclusive, com tratamentos mais avançados como a cirurgia robótica.

Foi uma conversa tão bacana e esclarecedora que agregou muito conhecimento e me fortaleceu como mulher. Pedi para a Dra. Audrey deixar um conselho enquanto médica mulher e foi lindo! 

Esse texto é sobre todas e cada uma de nós e espero que as palavras dela toquem vocês como tocaram a mim! 

Não somos e nunca seremos perfeitas. Não precisamos atingir a perfeição e dar o máximo de si é um mito. Devemos nos sentir felizes, satisfeitas e saudáveis respeitando quem somos, conhecendo quem somos, aprendendo e estudando para atingirmos o que desejamos, pois, cada pessoa tem seu ritmo e sua história. Precisamos honrar nossa história, nos conhecer, cuidar das pessoas aos nosso redor, mas, principalmente cuidar de nós mesmas.

É importante abandonar a ideia falsa de que a gente precisa ser perfeita em todos os aspectos, ter o corpo perfeito, ser superforte, fazer tudo, pois ao entendermos quem somos, melhoramos nossa consciência física, emocional e espiritual e, cientes de quem somos, devemos dar cada passo com muita força, com muita vontade e com tudo que tivermos de amor e paixão para entendermos nossos sentimentos nossas limitações.”

Chega de ficar se superando! Seja plena e pratique o autocuidado!


Daiana Allessi é mãe, esposa, advogada, professora e pesquisadora sobre gênero e direitos das mulheres.

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