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Me chame pelo meu nome

Me chame pelo meu nome

Espero que cada pessoa possa assumir seu papel na sociedade e acima de tudo, ser respeitada por ser quem é. Que sempre te chamem pelo teu nome!

Daiana Allessi - quinta-feira, 16 de março de 2023 - 09:00

A inspiração para esse texto vem do mês de março, das comemorações pelo dia internacional da mulher, porém, origina-se de vários desconfortos e desabafos. Preciso dizer que o tema de hoje foi sugestão de uma mulher destemida, cuja trajetória pessoal e profissional eu admiro e que me ensinou muito com seu relato.

É necessário dizer o óbvio, e eu repetirei, apesar de cansada, quantas vezes forem necessárias, que a base de uma sociedade digna é o respeito. O respeito como essência, no melhor entendimento de que o que não for consensual não é moral nem é legal.

Ninguém é obrigada (o) a aceitar comportamentos desvirtuados, arbitrários e toscos. Que dizer que é “mimimi”, que existe coisa pior ou que o mundo está chato porque antes podia e agora não pode, na minha humilde opinião, é dar aos outros a certeza de que você é uma pessoa despreparada para a vida em sociedade.

E digo mais, fomos criadas (os) em maior ou menor grau, em uma sociedade firmada na opressão, na hierarquização e no medo. Uma sociedade que invisibilizou muitas alteridades, ignorou muitas vozes e impossibilitou a realização dos desejos, desde os mais complexos até os mais simples, como a vida livre de violência e preconceito.

Fiz todo esse percurso introdutório para dizer que nós mulheres, assim como muitos outros seres humanos que compõem nossa sociedade querem respeito. Me chame pelo meu nome é um pedido simples, porém, cheio de significado e que infelizmente ainda é ignorado socialmente.

Das muitas violências cometidas e denunciadas, a ausência de uma medida simples como chamar as pessoas pelos seus nomes ainda é uma violação cometida, um preconceito recreativo, um comportamento dominador que objetifica e fere a pluralidade de seres humanos que são desnudados por adjetivos pejorativos em detrimento de seus nomes.

Vamos fazer um exercício de empatia.

Apenas a título de exemplo, será que em seus contatos, sociais e profissionais o “Sr. Carlos da Silva” gostaria de ser chamado de “docinho”, o “Sr. João Alves” gostaria de ser chamado de “anjo” e o “Sr. Pedro Souza” gostaria de ser chamado de “florzinha” por pessoas desconhecidas, sem grau de intimidade, ou pior, por pessoas com ascendência hierárquica?

Tenho certeza de que a resposta é não.

Então, porque minhas personagens fictícias, a “Sra. Carla da Silva”, a “Sra. Joana da Silva”, a “Sra. Pedrina Souza” gostariam de ser nominadas dessa forma por homens estranhos, ou ainda pior, por aqueles que por moral e obrigação legal lhe devem respeito e formalidade?

ME CHAME PELO MEU NOME! É simples, não dói e você faz sua parte como ser humano educado e consciente do seu lugar na sociedade!

“Pela maior parte da História, ‘anônimo’ foi uma mulher.”

(Virginia Woolf)


Daiana Allessi é mãe, esposa, advogada, professora e pesquisadora sobre gênero e direitos das mulheres.

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