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As flores do campo

As flores do campo

A participação e liderança feminina na agricultura, muito mais que representar igualdade de gênero, empodera e inflaciona positivamente a economia mundial. Repito, lugar de mulher é onde ela quiser!

Daiana Allessi - sexta-feira, 21 de abril de 2023 - 09:00

Não é de hoje que venho enfatizando a necessidade do reconhecimento da igualdade de gênero, como algo natural, simples e justo. No campo profissional, a da igualdade de gênero é algo que precisa ser naturalizada de modo a permitir que as mulheres identifiquem sua condição de paridade com os homens, para a execução das mais diversas atividades laborativas, afinal de contas, o espaço profissional da mulher deve ser aquele que ela quer exercer, pois já virou até cafona segregar homens e mulheres segundo as atividades que seriam mais compatíveis com as características de cada um.

Abrindo parênteses para esta questão, defendo que as atividades profissionais devem ser exercidas segundo as características da pessoa que as escolhem, como resultado de um amadurecimento pessoal que reflita seus gostos, habilidades e promova a sua satisfação, mas nunca por conta do gênero do candidato (a) àquela atividade laboral, até porque, esta possibilidade de escolha, é um grande exemplo de liberdade que todos e todas temos direito.

Partindo para um exemplo concreto de cafonice na segregação de atividades sob a perspectiva do gênero, temos o trabalho dos agricultores. Durante muito tempo, a sociedade viu com extremo preconceito o protagonismo da mulher nos postos de trabalho rural, principalmente naqueles de liderança, tanto é que as tecnologias e recursos para o setor avançaram sob o entendimento de que eram mais destinados a homens, tudo isso especialmente aliado ao entendimento incorreto de que, dada a natureza braçal de tais atividades, os homens teriam capacidade superior para a execução.

Foi nesta perspectiva que li duas notícias, dos dias 13 e 14 deste mês, muito alinhadas ao tema, que gostaria de comentar aqui. A primeira delas é uma divulgação de dados oriundos de um relatório da Organização das Nações Unidas, especificamente da Food and Agriculture Organization of the United Nations, através do qual se conclui que a mulher tem um papel muito importante nos sistemas agroalimentares. 

De acordo com o relatório, com o fim da desigualdade de gênero no setor, o Produto Interno Bruto Global aumentaria em cerca de  US$ 1 trilhão, além de reduzir em 45 milhões o número de pessoas com insegurança alimentar. São números muito expressivos para que, além de trazer uma das soluções para a garantia ao acesso à alimentação de ainda mais pessoas, possa ocorrer um incremento trilionário na economia global.

Como já mencionei mais acima, a igualdade de gênero deveria ser algo natural, mas o fato de que tal reconhecimento pode trazer impactos muito positivos para a economia, traz um importante aliado para o fortalecimento da luta pela redução das desigualdades. 

Infelizmente, o ser humano tem uma motivação financeira muito predominante, muitas vezes agindo apenas conforme a percepção das melhores vantagens monetárias, de modo que, a partir do momento que os estudos começam a demonstrar que a igualdade de gênero pode ter um efeito pecuniário/econômico positivo, esta constatação pode se tornar um combustível muito importante na luta pela efetiva aceitação social e política da equidade entre homens e mulheres. 

A outra notícia que mencionei é sobre o 8º Encontro Regional das Mulheres Rurais, que reuniu mais de 300 mulheres na Expolondrina, evento que destacou a necessidade de cada vez mais se reforçar a atuação feminina na agricultura paranaense.

O Paraná é um dos Estados mais importantes do Brasil na agricultura e a participação feminina no comando de tais negócios vem crescendo. De acordo com o último censo divulgado, aproximadamente 40 mil propriedades rurais são administradas por mulheres, número este que, apesar de parecer grande, representa ainda apenas 13% dos estabelecimentos agropecuários paranaenses

O que me anima é o fato de que o número está crescendo e o relatório da ONU apresenta dados muito relevantes que podem ajudar ainda mais neste crescimento, fortalecendo a economia, diminuindo as assimetrias entre os gêneros e estimulando o empoderamento feminino.

Portanto, o engajamento feminino nas atividades rurais influencia não apenas em seus aspectos individuais pessoais, mas que afeta sua família, seu País e, conforme dados revelados pela ONU, tem capacidade para impactar a economia mundial.

Que venham ainda mais notícias como estas, que venham ainda mais encontros como o da Expolondrina e o V Encontro de Mulheres que fazem a diferença no Agronegócio Brasileiro que ocorrerá no próximo dia 12 de maio na Expoingá, porque afinal de contas, a agricultura brasileira (e mundial) também é feita por mulheres!

 Mulheres, nos vemos lá.

“Você não é um Atlas carregando o mundo em seus ombros. É bom lembrar que o planeta é que está carregando você.” 
(Vandana Shiva)


Daiana Allessi é mãe, esposa, advogada, professora e pesquisadora sobre gênero e direitos das mulheres.

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