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08 de Março: temos valor e queremos respeito!

08 de Março: temos valor e queremos respeito!

Que 08 de março, Dia Internacional da Mulher, seja uma data para relembrar as lutas, celebrar as conquistas e avançar na busca por protagonismo. Que nada nem ninguém nos defina!

Daiana Allessi - quinta-feira, 2 de março de 2023 - 17:30

Março começou e com ele a indissociável ideia do mês das mulheres, de modo que se torna importante conhecer os motivos que transformaram o terceiro mês do ano em um símbolo pela luta dos direitos femininos.

A história nos conta que a manifestação ocorrida em Nova York no ano de 1908, quando milhares de operárias protestaram pela redução das jornadas de trabalho, melhores salários e direito ao voto, foi crucial para o fortalecimento da luta feminina por direitos e justiça. Um ano depois, o Partido Socialista da América declarou o primeiro dia das mulheres.

Contudo, foi durante a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague, realizada em 1910, que Clara Zetkin propôs tornar a data internacional, sugestão que foi acatada com unanimidade pelas 100 mulheres, oriundas dos 17 países participantes.

Porém, o mês de março foi escolhido em razão de um episódio histórico pois, no dia 08 de março de 1911, as funcionárias da fábrica Triangle Shirtwaist Compay em Nova York, nos Estados Unidos, começaram uma greve reivindicando melhores condições de trabalho. A reivindicação era que a jornada fosse diminuída de 16 para 10 horas diárias, que o ambiente de trabalho fosse menos insalubre e que seus salários fossem iguais aos dos homens.

E ainda que não exista um consenso sobre como e por que, alguns dias após o início da greve, em 25 de março, ocorreu um incêndio nessa fábrica que possuía aproximadamente 600 operários, a maioria conseguiu sair, entretanto, 146 pessoas morreram sendo 125 mulheres.

Diante de toda a mobilização histórica e da efervescência das organizações de mulheres clamando pelo direito de serem reconhecidas como pessoas detentoras de direitos, a Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou em 1977 o dia 08 de março como o Dia Internacional da Mulher, cravando a data como um símbolo da luta feminina por igualdade, direitos e respeito.

Todo esse contexto é necessário para entender que o mês de março tem, ou pelo menos deveria ter, um significado especial para as mulheres do mundo inteiro. O dia 08 não é um dia romântico, é um dia político e não deve ser banalizado.

Aprendemos desde crianças, na escola, nos conhecimentos transmitidos, uma história que virou estória, ou seja, fatos se transformam em lendas ou ficção e que esvaziam o significado das lutas havidas, dos protestos e da desigualdade que forjou a nossa sociedade.

Repensar conceitos, trocar rotas e restabelecer metas são medidas necessárias para um mundo melhor, sem utopias, um mundo melhor para todos, não apenas para as mulheres. O conhecimento é poder, é argumento e instrumento de justiça social e enriquecimento cultural.

Você já se questionou se o seu conhecimento é real? 

Nem sempre o conteúdo dos livros e apostilas que formaram nossa bagagem intelectual é fidedigno com a realidade, pois estão cheios de narrativas floreadas, unilaterais e hegemônicas, vide a história do descobrimento do Brasil, a abolição da escravatura e tantas outras narrativas desconectadas de seu real motivo.

Seguindo essa lógica, entendo que o dia da mulher também foi fantasiado, monetizado e esvaziado. Só quem luta e conhece as batalhas sabe da sua caminhada e das dificuldades, e sim, precisamos de um dia e de um mês de conscientização! Não só para ganharmos flores e bombons (que são verdadeiras delicadezas e adoramos), mas para ganharmos uma sociedade com governantes, pais, amigos e parceiros mais respeitosos, engajados e conscientes de nosso valor e humanidade.

Precisamos celebrar e ter um dia para relembrar todas que nos conduziram até aqui, condução forte e corajosa que custou mortes na guilhotina, no fogo, à bala, na forca, à mingua. Custou marginalização, silenciamentos, violências múltiplas e apagamentos.

Estamos em pleno século XXI, da globalização, da tecnologia, da inteligência artificial, mas também da desigualdade, e é por isso que ainda temos que falar sobre a necessidade de respeitar as mulheres. Vivenciamos todo tipo de assimetria entre gêneros e a mulher, enquanto ser humano detentora de direitos, ainda não foi um conceito assimilado e concretizado.

Avançamos muito, mas o caminho é longo!

Antecipo-me aos comentários de mimimi, de dia do homem e exageros feministas. Mimimi é falta de empatia e o desmerecimento da dor e trajetória da vida alheia, dia do homem tem sido todos os dias, pois, são os que estatisticamente ganham maiores salários, lotam a política e os postos de poder e decisão, despendem menos tempo com trabalho doméstico não remunerado, praticam violências múltiplas e o feminicídio contra as mulheres, entre outras situações que não citarei para não alongar demais o texto. 

Por último e não menos importante, não há que se falar em exageros feministas quando a luta é pela igualdade, com respeito às diferenças e sem hierarquizações entre feminino e masculino.

Não quero generalizar, polemizar nem lacrar, apenas informar e exaltar que o mês de março chegou e com ele a responsabilidade social em tornar o mundo um lugar mais pacífico e seguro para nossas meninas e mulheres.

Feliz dia 8 de março! 

“(…) Só mesmo, rejeita
Bem conhecida receita
Quem não sem dores
Aceita que tudo deve mudar
Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar”
(Música:Triste, Louca ou Má. Composição: Andrei Martinez Kozyreff / Juliana Strassacapa / Mateo Piracés-Ugarte / Rafael Gomes / Sebastián Piracés-Ugarte)


Daiana Allessi é mãe, esposa, advogada, professora e pesquisadora sobre gênero e direitos das mulheres.

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