DELÍRIOS DA ARTE EM VERTIGEM
Alceo RizziMuita gente dessa geração de atores e de outras áreas da arte que surgiuem alinhamento direto com o mo..
Alceo Rizzi
Muita gente dessa geração de atores e de outras áreas da arte que surgiu
em alinhamento direto com o modelo sindical populista no poder, absorvendo
sua concepção e política de Cultura, e que hoje se julga predestinada a um
protagonismo dito progressista, não percebe, por deformação ou oportunismo, o
reducionismo intelectual do qual acabaram sendo as próprias vítimas.
O filme Democracia em Vertigem, pretenso documentário indicado ao Oscar, talvez não
seja o resultado único dessa constatação, embora dirigido por descendente de
uma das famílias de empreiteiros mais poderosa do País, em tese imunizada de
uma visão restrita e sectária pelo acesso ao amplo pensamento, pelas próprias
condições que o berço lhe concedeu.
As manifestações dessa espécie de síndrome cultural unilateral,
apaixonada, avessa ao contraditório e devota de um sectárismo e de um
proselitismo panfletário, dos qual muitos sequer se dão conta, se reproduziu e
se espalhou pelos escaninhos do Estado e também no que se convencionou
chamar de mídia, a imprensa com seus pequenos guetos.
Hoje em cenário de desvantagem, certo ou errado, não vem ao caso, em vez da reflexão necessária, acentua comportamento arrogante e soberbo, ainda mais convencidos da prática
a qual se acostumaram com um Estado então complacente e perdulário nos
financiamentos de uma arte que lhe era simpática e engajada.
A comodidade e os benefícios de um alinhamento parecem ter subtraído
dessa geração ao logo de mais de uma década a capacidade de discernimento
de entendimento de um Estado que não lhe seja provedor, e não lhe contradiga
como acontecia antes, por absoluta falta de necessidade. Querem a manutenção
do Estado Mecenas, mesmo aos seus proselitismos contraditórios e impositivos,
devotos de uma realidade que passou e não se deram conta, mas que
propositadamente ignoram na tentativa de resguardar intocáveis os espaço e as
condições de financiamentos de seu projetos e delírios.
O ator Wagner Moura, por exemplo, agora acusa como “a evidente
censura” do governo, através da Ancine, por não financiar a logística de
distribuição e o espaço do filme por ele protagonizado sobre Carlos Marighela,
guerrilheiro morto em confronto com forças policiais em governo do regime
militar. A diretora do filme indicado ao Oscar, declara que “é preciso resgatar o
Estado de Direito”, um delírio de quem não se dá conta que seu filme, como a
do ator baiano sobre Marighela, só foram possíveis pelos direitos plenos que o
País ainda mantem resguardados.
É a liberdade garantida por estes direitos que permite a opção e
manifestação do pensamento de ser esquerda, de direita, de independência
intelectual desamarrada de qualquer viés ideológico. Chulé não é defeito, diria o
poeta Zé Limeira: é da pessoa.
Avesso é fazer da arte e da exposição que ela permite, proselitismo raso e manipulador de uma realidade, seguindo a máxima de que se a sua tese pretendida a ela não se encaixa, que se se faça então com que ela se enquadre naquilo que você pretende. Não parece razoável!
Alceo Rizzi é jornalista, escritor e publicitário