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Remédio para leucemia produzido pela Fiocruz abre perspectiva para tratamento menos tóxico
Reprodução/Fiocruz

Remédio para leucemia produzido pela Fiocruz abre perspectiva para tratamento menos tóxico

Descoberta abre possibilidade para a produção nacional do medicamento

Mirian Villa - sábado, 28 de agosto de 2021 - 07:00

Um remédio baseado em uma enzima produzida pelo organismo humano, a L-asparaginase, tem potencial para tratar crianças e adultos com leucemia linfoide aguda (LLA) e amenizar a agressividade durante o processo de cura. 

O estudo, que é realizado pela Fiocruz Paraná desde 2015, desenvolveu uma versão inovadora da asparaginase humana, que passou a ter maior atividade bioquímica após mudanças em sua estrutura, concedendo potencial terapêutico. Ou seja, as modificações na enzima produzida pelo organismo humano permitiram que a molécula fosse transformada em um medicamento. 

Até agora, nenhuma outra equipe de pesquisadores conseguiu fazer com que a proteína funcionasse fora do corpo humano. Por isso, pacientes diagnosticados com leucemia linfoide aguda usam remédios que extraem essa molécula de bactérias. 

“A asparagina é o alimento do câncer, da leucemia…as células leucêmicas precisam ser alimentadas para sobreviver e multiplicar. Para explicar de maneira simples, é como se o remédio sequestrasse e acabasse com esse alimento”, explica Tatiana Brasil, pesquisadora do Laboratório de Proteômica e Engenharia de Proteínas. 

Remédio para leucemia pode deixar tratamento menos agressivo

O medicamento inovador abre perspectiva para um tratamento mais específico e menos tóxico. “A enzima obtida a partir de bactérias, embora efetiva no tratamento, provoca uma reação forte do sistema imunológico. A vantagem de se utilizar no tratamento uma proteína de origem humana seria a diminuição dos efeitos colaterais no paciente, decorrentes do reconhecimento de uma molécula estranha”, argumenta Tatiana. 

Um remédio baseado em uma enzima humana, a L-asparaginase, tem potencial para tratar crianças e adultos com leucemia linfoide aguda. Veja!
Amostra da medula óssea de um paciente com leucemia linfoide aguda (Reprodução Wikipedia/Furfur)

Além da diminuição dos efeitos colaterais, a descoberta do novo remédio para a leucemia linfoide aguda abre possibilidade para a produção nacional, já que o Brasil precisa importar a asparaginase bacteriana, que é utilizada nos serviços de oncologia do SUS (Sistema Único de Saúde). 

Com a produção nacional, será possível baratear o custo do tratamento, reduzir as importações e melhorar o tratamento. “Pela primeira vez no mundo a gente conseguiu ver em laboratório essa atividade de matar as células leucêmicas. Isso nos dá bastante otimismo para seguir em frente.”

A expectativa dos pesquisadores da Fiocruz é que os pacientes comecem a utilizar o medicamento em 2027. “O processo de desenvolvimento é demorado porque tem um critério, um rigor. Para chegar até o paciente é preciso passar por muitas etapas para ter certeza que aquela proteína vai funcionar.”

O próximo passo do estudo é aumentar a produção do medicamento para poder iniciar o estudo em pacientes com leucemia linfoide aguda. Além de Tatiana, outros dois pesquisadores fizeram a descoberta: Stephanie Bath de Morais e Nilson Zanchin. 

“O tratamento tem altas chances de cura…o que a gente está pensando é melhorar no sentido de qualidade de vida para o paciente”, finaliza Tatiana.

O que é leucemia linfoide aguda (LLA)? 

A leucemia linfoide aguda é um câncer causado por um linfócito -célula responsável pela defesa do organismo- que sofre mutação na medula óssea. O dano gera um linfoblasto que não amadurece e a partir disso, as células saudáveis da medula óssea morrem.

Uma projeção do INCA (Instituto Nacional de Câncer) estima que sejam diagnosticados no Brasil 5.920 casos novos de leucemia em homens e 4.890 em mulheres por ano até 2022. As mutações não são herdadas, por isso, a hereditariedade não é um fator comum na causa da doença.

O risco de desenvolver a LLA é maior em crianças até cinco anos. Depois isso, o risco declina e começa a aumentar lentamente após os 50 anos.

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