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Professora que acusa supermercado de racismo abre b.o. contra estabelecimento

Professora que acusa supermercado de racismo abre b.o. contra estabelecimento

Professora Isabel Oliveira voltou ao supermercado seminua depois de ter sido perseguida por um segurança na loja

Ana Flavia Silva - segunda-feira, 10 de abril de 2023 - 19:04

A professora Isabel Oliveira, de 43 anos, que acusa um supermercado de racismo, abriu um boletim de ocorrência contra o estabelecimento. Ela esteve na tarde desta segunda-feira (10)  na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Curitiba, acompanhada de uma advogada e de representantes de movimentos negros. No último sábado (8), Isabel protestou dentro da loja tirando a roupa, para mostrar que não estava roubando nada, depois de afirmar estar sendo perseguida por um segurança dentro do local. O caso aconteceu neste sábado (8) no Atacadão da Avenida Presidente Wenceslau Braz, no bairro Guaíra.

“Voltei nua para garantir que eu vou levar a latinha de leite para minha neném e não estou roubando nada. É um ato”, diz ela em um trecho do vídeo que compartilhou nas redes sociais, ao conversar com uma funcionária do mercado. Antes de fazer o protesto, ela desabafou, chorando, sobre o que havia vivenciado na loja.

A professora, que é mestre em artes, é pesquisadora do Teatro Negro e fundadora da Coletiva ÈMÍ WÁ, um movimento que tem “o intuito de empretecer a cena curitibana com as nossas presenças pretas, nossas narrativas, vivências e poéticas”, conforme é descrito na internet.

INQUÉRITO POLICIAL

“A vítima passava pelas prateleiras e pelas gôndolas do mercado e percebia que esse segurança ia seguindo ela e cuidando do que ela estava fazendo. Ela se sentiu bastante constrangida, chegou a interpelar e questionar o segurança e saiu bastante abalada do mercado”, conta a delegada Camila Cecconello. O boletim de ocorrência registrado, segundo ela, foi de “crimes resultantes de preconceito de raça e cor”.

A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso e deve ouvir mais pessoas sobre o ocorrido, como funcionários, testemunhas e o próprio segurança envolvido no caso. 
“As equipes também estão nas ruas para coletar câmeras de segurança do interior do mercado, que consigam demonstrar e comprovar a ação ocorrida”, destaca.

O QUE DIZ O MERCADO

Em nota, o Atacadão afirma que apurou o caso ‘ouvindo os funcionários e analisando as imagens de câmeras de segurança, e não identificou indícios de abordagem indevida’. 

“A empresa possui uma política de tolerância zero contra qualquer tipo de comportamento discriminatório ou abordagem inadequada. Desde as primeiras manifestações da cliente no local, a supervisão e a gerência da loja se colocaram à disposição para ouvi-la e oferecer o devido acolhimento. Lamentamos que a cliente tenha se sentido da maneira relatada, o que, evidentemente, vai totalmente contra nossos objetivos, afirma trecho da nota.

LULA SE MANIFESTA SOBRE O CASO

O presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) comentou o caso da professora nesta segunda-feira (10), durante a abertura da reunião para debater os 100 primeiros dias do governo.

Ele acusou a empresa de cometer crime e disse que “neste país a gente não vai admitir o racismo”, relembrando outro caso registrado na rede Carrefour – dona do Atacadão desde 2007.

“O Carrefour cometeu mais um crime de racismo. Mais um crime. Um fiscal do Carrefour acompanhou uma moça negra, que ia fazer compra, achando que ela ia roubar, ela teve que ficar só de calcinha e sutiã para provar que ela não ia roubar. É a segunda vez que o Carrefour faz esse tipo de coisa”, disse. “A gente tem que dizer para a direção do Carrefour: se quiserem fazer isso no seu país de origem, que façam, mas neste país a gente não vai admitir o racismo”, finalizou.

O caso a que Lula se referia foi registrado em 2020, em uma unidade do Carrefour de Porto Alegre. Um homem negro foi espancado por funcionários até a morte, depois de ter discutido com uma funcionária

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