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Apenas 74% das crianças até 2 anos são vacinadas em Curitiba; índice é o maior do país

Apenas 74% das crianças até 2 anos são vacinadas em Curitiba; índice é o maior do país

Ao lado de Teresina (PI), a capital paranaense lidera ranking de cobertura vacinal no país; pediatra fala sobre a importância da vacinação nos primeiros meses de vida

Ana Flavia Silva - terça-feira, 2 de maio de 2023 - 19:01

Aos oito meses de idade, Isabella Sfeir Viegas de Araújo já tomou 16 vacinas desde que nasceu. Além dos imunizantes previstos no Calendário Nacional de Vacinação, ela também já está protegida contra a Covid-19 e a gripe – a segunda dose deve ser aplicada ainda nesta semana. Para a mãe, Tamires Sfeir, a vacinação faz parte da rotina. “Estar em dia com as vacinas é algo que eu sempre achei importante e cuidei antes mesmo de ser mãe, estando atenta para eu mesma estar com todas as vacinas em dia. Durante a gestação isso se intensificou, pois quis garantir a maior proteção para minha filha desde sua formação”, relata. 

(Arquivo Pessoal)

O exemplo da família ajuda a colocar Curitiba no topo do ranking entre as capitais com maior cobertura vacinal de crianças com até dois anos de idade. Ao lado de Teresina (PI), a capital paranaense tem índice de 74% de cobertura, à frente de Brasília, com 73%. Os dados são do último Inquérito Cobertura Vacinal, realizado pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Os números, no entanto, preocupam. As informações consideram os bebês nascidos entre 2017 e 2018. De lá pra cá, os índices de cobertura vacinal têm registrado quedas consecutivas e cada vez maiores. Um relatório global da Unicef indica que entre 2019 e 2021, 1,6 milhão de crianças não tomaram nem a primeira dose da vacina DTP, que previne contra difteria, tétano e coqueluche no Brasil. Outras 700 mil tomaram a primeira e/ou a segunda dose, mas não tomaram a terceira (DTP3). Isso leva a um total de 2,4 milhões de crianças não imunizadas no país.

“A gente fica muito preocupado e triste ao mesmo tempo quando vê que a cobertura vacinal de algumas doenças graves caiu. Como infectologista, é muito triste ver um pai perder um filho que poderia ter sido salvo se tivesse sido vacinado”, desabafa o pediatra e infectologista Victor Horácio de Souza Costa Junior. Ele explica o quão importante é buscar a imunização nos primeiros meses de vida. “A criança nasce sem imunidade e precisa adquirir com o tempo. O esquema de vacinação proposto pelo Ministério da Saúde ou pela Sociedade Brasileira de Pediatria visa proteger as crianças, que não têm imunidade nenhuma. Essas doenças que têm vacina, são doenças que matam”, alerta. 

DESAFIO DA VACINAÇÃO

No texto de divulgação do relatório da Unicef, a ministra da Saúde, Nísica Trindade destaca o desafio de retomar os índices de cobertura vacinal no país. “Atualmente, o Brasil conta com uma cobertura vacinal das mais baixas da sua história desde a criação do Programa Nacional de Imunizações. Já tivemos 95% de cobertura em relação a vacinas como a da poliomielite, e agora não chegamos a 60% de crianças vacinadas. Esse quadro tem que mudar. Para isso, de uma maneira muito clara, temos de combater o negacionismo em relação a essa proteção dada pelas vacinas e às fake news que infelizmente têm sido veiculadas de uma forma irresponsável e criminosa”, afirma.

Para isso, Victor Horácio reforça que a informação e a proximidade da família com o pediatra são fundamentais. “Os pais, quando lerem qualquer coisa diferente sobre a vacina, devem levar as dúvidas ao pediatra. Tem muitas informações que mais atrapalham a saúde das crianças do que ajudam”, destaca. 

ATUALIZAÇÃO DO CALENDÁRIO VACINAL 

O médico também reforça a necessidade de atualização do calendário vacinal, mesmo que algum prazo de aplicação tenha passado. “Não existe vacina perdida. O calendário pode ser atualizado em qualquer fase da vida”, diz. No entanto, ele alerta sobre as contra-indicações de acordo com a faixa etária. “A do rotavírus, por exemplo, não pode ser feita depois dos sete meses e 29 dias de vida, por risco de torção intestinal. Então o ideal é manter a rotina dentro do prazo”. De toda forma, a consulta ao pediatra é a melhor forma de tirar dúvidas sobre os imunizantes indicados. 

SENSIBILIZAÇÃO E ACESSO

De volta ao Inquérito Cobertura Vacinal, 31 mil entrevistas foram feitas com a população nas capitais. Outro ponto de destaque da capital paranaense é a facilidade de acesso às unidades de saúde para a aplicação das vacinas. Apenas 1% dos entrevistados relataram alguma dificuldade para se vacinar, contra 7% na média nacional das demais capitais. Em um momento em que é preciso sensibilizar a sociedade para buscar os imunizantes, tornar o acesso às doses mais fácil é um bom caminho.

Em Curitiba, além dos mutirões (Dia D de Vacinação), a Secretaria Municipal da Saúde tem adotado estratégias como a ampliação do horário de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde. Em 2022, foram três edições de semanas com horário estendido de vacinação e quatro Dias D.

Nestas ações, as equipes da secretaria aplicaram 68,3 mil doses de imunizantes, o que impactou diretamente no aumento da cobertura vacinal geral. No primeiro Dia D de 2023, realizado em 15 de abril, foram aplicadas mais de 13 mil vacinas. Outras 2,1 mil unidades foram aplicadas entre as 19h e 20h, de 10 a 14 de abril, na primeira semana do ano de horário estendido para vacinação. 

A busca ativa de crianças faltosas também é uma forma de atrair as famílias para manter o calendário em dia. De acordo com a coordenadora da pesquisa no Paraná, professora do departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Karin Luhm, o SUS Curitibano tem “prontuário eletrônico e um sistema de monitoramento dos faltosos, que vai atrás das crianças que não se vacinam. Isso ajuda muito”, avalia Karin.  

A mãe de Isabella não precisa desse incentivo externo. Pelo contrário. Ela mesma se torna um incentivo para a filha, ainda que bebê, para que ela entenda a importância daquele momento. “Protegemos a Isabella seguindo o calendário de vacinação desde a maternidade. Nos dias de vacina, gosto de falar para ela que é um dia importante pois ela ficará ainda mais forte, protegida e também estará ajudando a proteger seus futuros amigos de escola”. 

 

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