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Primeira vereadora negra de Curitiba diz que superou muros do machismo, racismo e antipetismo

Primeira vereadora negra de Curitiba diz que superou muros do machismo, racismo e antipetismo

Uma mulher negra foi eleita vereadora de Curitiba pela primeira vez. Carol Dartora recebeu 8.874 votos, foi a terceira c..

Vinicius Cordeiro - quarta-feira, 18 de novembro de 2020 - 16:14

Uma mulher negra foi eleita vereadora de Curitiba pela primeira vez. Carol Dartora recebeu 8.874 votos, foi a terceira candidata mais votada nas Eleições 2020 e vai ocupar uma das 38 cadeiras na Câmara Municipal até 2024. Em entrevista ao Paraná Portal, ela afirma que teve a campanha alavancada pelo antirracismo, que tirou o antipetismo “de letra” e promete oposição ao prefeito reeleito, Rafael Greca.

Segundo a professora da rede pública e doutoranda na UFPR (Universidade Federal do Paraná), de 37 anos, uma das vitórias da candidatura foi ter transformado o sentimento de não pertencimento à cidade em ação política.

“Foi muita alegria. Todas essas barreiras são muros bem grandes. Ser mulher, negra e petista. É isso mesmo que eu sou. Ter a votação que a gente teve significa que temos respaldo, que as pessoas entenderam a construção e o que eu quero colocar. Muita gente se sentiu representada”, diz Dartora.

Em sua análise, as manifestações antirracistas que tiveram ascensão no mundo inteiro após a morte de George Floyd também tiveram impacto na sua eleição. A nova vereadora afirma que viu uma compreensão social de ter mais diversidade e representatividade na política.

“Com certeza ajudou. Eu falava muito de como Curitiba é uma cidade segregada e organizada racialmente, consegui dar voz para outras pessoas que tinham o mesmo sentimento. Sinto que essa vontade de transformação estava semeada e a gente veio colher esse fruto”, conta.

“PARA QUEM ENFRENTA RACISMO E MACHISMO, O QUE É O ANTIPETISMO?”

A conquista histórica de Carol Dartora também foi uma vitória do PT (Partido dos Trabalhadores) em Curitiba. A legenda aumentou sua bancada nas eleições municipais, já que Renato Freitas e a Professora Josete, pelo quinto mandato, também foram eleitos.

“A gente tinha medo no começo da campanha. Mas já falava que para quem enfrenta racismo e machismo, o que é o antipetismo? Coloquei no bolso”, diz.

Dartora afirma que foi questionada por eleitores sobre a decepção com a legenda pelos casos de corrupção. No entanto, ela fez o contraponto valorizando as políticas sociais, como ao combate à fome, valorização do salário mínimo e do acesso ao ensino superior.

“Eu sou fruto dessas políticas e eu resgatava isso, aí o antipetismo ficava mais ameno. Não dá pra negar que a quantidade de pessoas negras e de mulheres negras hoje na política se deve muito a políticas do PT. Qual é o partido que tem esse legado? Trouxe essa legitimidade”, argumenta.

CAROL DARTORA FARÁ OPOSIÇÃO A GRECA 

Carol Dartora, terceira candidata mais votada em Curitiba nas Eleições 2020. (Reprodução/Instagram)

Com projetos contra a violência racial, transporte público e educação, Carol Dartora pretende ser uma voz ativa na bancada de oposição ao atual prefeito Rafael Greca. Contudo, um dos principais objetivos da vereadora será transmitir o que é feito dentro da Câmara Municipal para as pessoas.

“Ainda é muito difícil fazer esse enfrentamento, mas vamos ser voz da denúncia e da fiscalização para a população. Durante a campanha eu percebi que as pessoas realmente não sabem das coisas que são feitas ali. Então vamos dar um reforço para gente explicitar essa política tão excludente que a atual gestão pública faz”, afirma.

A Câmara Municipal de Curitiba não registrou crescimento no número de vereadoras nas eleições 2020. Foram oito mulheres eleitas, mesmo número de 2016. Contudo, esse não é o único problema para Dartora.

“Infelizmente não aumentamos o número e somos poucas. Mas além da sub-representação, ainda temos mulheres que não fazem debate, que são alinhadas com uma política neoliberal, de famílias que têm tradição, poder econômico e se elegeram baseadas nisso. Nesse sentido não é uma vitória para o movimento feminista”, finaliza.

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