Agronegócio
Banco reúne 28 mil amostras com dados biológicos dos solos brasileiros
Fabiano Bastos

Banco reúne 28 mil amostras com dados biológicos dos solos brasileiros

Os exemplares foram coletados em 960 municípios do País

Mirian Villa - terça-feira, 5 de dezembro de 2023 - 10:23

A tecnologia de Bioanálise de Solo (BioAS) reúne hoje o maior banco de dados de atividade enzimática de solos do mundo, com informações de 28 mil amostras das cinco regiões brasileiras. São todas mensuráveis, rastreáveis e verificáveis e coletadas em 960 municípios de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal.

Desenvolvida pela Embrapa Cerrados (DF) e Embrapa Agrobiologia (RJ), a BioAS inovou ao agregar o componente biológico à análise de solo, antes limitada aos atributos químicos e físicos, e colocou o Brasil na vanguarda desse tipo de trabalho.

A análise envolve medições de enzimas relacionadas aos ciclos de enxofre e carbono, que são capazes de indicar a saúde do solo. A técnica combina propriedades químicas e biológicas do solo, avaliando a matéria orgânica presente nele, o que gera um resultado mais completo que as análises convencionais.

Com base no universo amostral já coletado, é possível constatar que mais da metade dos solos é considerada saudável (53,7%); 14,7% estão em recuperação; 23,5%, adoecendo; 2,5%, doentes e 5,6%, com resultados indefinidos.

“O fato de que 68,4% das amostras já cadastradas no banco de dados representam ambientes de solos saudáveis ou em recuperação é altamente positivo, mas também mostra que há grande espaço para melhoria”, afirma a pesquisadora da Embrapa Ieda Mendes, líder do projeto Bioindicadores. Ela destaca que esse trabalho em rede tem permitido monitorar de forma inédita os solos do País.

Mendes explica que a BioAS é uma ferramenta que permite ao agricultor alcançar avanços significativos na saúde dos solos das lavouras, uma vez que facilita a identificação das melhores práticas de manejo e, também, daquelas que podem vir a degradar o solo e comprometer a produtividade futuramente. Hoje, o Brasil é o único país do mundo que possui parâmetros biológicos, calibrados em função do rendimento de grãos e da matéria orgânica, nas análises de solo.

“Por ser um banco de dados totalmente rastreável, a partir desses resultados, várias estratégias eficazes podem ser aplicadas para garantir lavouras produtivas em solos saudáveis, abrindo enormes oportunidades para políticas públicas de conservação e saúde do solo em nível municipal, estadual e nacional”, explica a pesquisadora.

Como funciona o BioAS

Para se integrar à Rede Embrapa BioAS, os laboratórios passam por rigorosos treinamentos teóricos e práticos. A confiabilidade nos resultados gerados em todo o País é garantida pela padronização dos métodos analíticos e protocolos de amostragem de solo. Além disso, os laboratórios da rede se submetem a testes interlaboratoriais que asseguram padrões de excelência das análises.

Após a habilitação, esses laboratórios se conectam aos servidores da Embrapa por meio da plataforma web denominada Módulo de Interpretação da Qualidade do Solo da Tecnologia BioAS (MIQS). Além de interpretar os valores de atividade enzimática e matéria orgânica do solo, indicando se eles estão baixos, moderados ou elevados, a plataforma MIQS também calcula os Índices de Qualidade de Solo (IQS). Os IQS são calculados com base nas propriedades químicas e biológicas em conjunto (IQSFERTIBIO) e separadamente (IQSBIOLÓGICO e IQSQUÍMICO).

Além dos IQS, na bioanálise são avaliadas ainda três funções relacionadas à capacidade do solo de promover a nutrição das plantas: (F1) a capacidade do solo ciclar nutrientes; (F2) a capacidade do solo armazenar nutrientes; e (F3) a capacidade do solo suprir nutrientes. Como os IQS, os escores das funções também variam de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de 1, melhor o desempenho da função.

“Semelhante à estratégia utilizada para interpretar os valores de atividade enzimática, todos os IQS e os escores das três funções são calibrados em relação ao rendimento de grãos e à matéria orgânica do solo”, esclarece a pesquisadora.

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