Agronegócio
Agricultura familiar e sucessão: o jovem do campo não tem medo

Agricultura familiar e sucessão: o jovem do campo não tem medo

Secretário da Agricultura, Norberto Ortigara, avalia a agricultura familiar e a respectiva sucessão no campo.

Pedro Ribeiro - terça-feira, 18 de abril de 2023 - 12:03

 

Para o secretário da Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado, Norberto Ortigara, a sucessão familiar é tema do dia a dia no campo. “Não é apenas a questão de sucessão familiar no campo que preocupa, mas essa também é uma pauta constante em nossas ações”.

Ortigara afirma que “nos grandes eventos do Estado, um dos painéis comandados pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná) ou com participação da Secretaria, esse tema está presente. Foi o que aconteceu recentemente na 61.ª Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina”, disse ao Paraná Portal.

Segundo observou, os depoimentos e os exemplos de quem vivenciou a sucessão familiar são importantes para motivar outros a seguirem caminhos semelhantes. Ali foi apresentado, por exemplo, o caso do casal Eduardo Carriça e Gabriela Scolari, de Sabáudia. A propriedade é da família de Gabriela há várias gerações, desde o ciclo da madeira no Paraná. Em cada um dos ciclos subsequentes, a sucessão foi saudável, com avanços. 

No atual ciclo, que o jovem casal assumiu, o que os guiou foi a agroecologia, disse Ortigara. Eles perceberam que esse segmento garante mais renda. O designer Eduardo deixou a cidade, adaptou-se ao sistema agroflorestal e o casal passou a produzir cafés especiais. A comercialização é feita também em uma cafeteria que o casal montou em Arapongas. Ou seja, quando o jovem percebe que pode ter renda para manter a família ficar no campo não é tão difícil.

Para Ortigara, qualidade de vida, realização profissional, oportunidade de mercado e lucratividade também seguraram Douglas e Lucimara na propriedade familiar em Wenceslau Braz. A agroecologia novamente foi atrativo. Além de ficarem e expandirem a produção de hortaliças, tomates, alho poró e outras variedades – já chegaram a ter 30 –, eles ainda conseguiram convencer os pais de Douglas a também apostarem na agroecologia. Hoje, os 1,25 hectares da chácara Viva Vida possuem sete estufas e entregam para várias unidades, entre elas uma rede com sete supermercados. A renda elevou-se cinco vezes mais do que quando a família produzia apenas os convencionais. Os pais, que eram contra, moram ao lado, na Chácara São José, de 2,47 hectares, e também aderiram ao sistema agroecológico.

Por sentir que esse é um segmento que pode segurar os jovens no campo, o Estado tem dado apoio com o programa Paraná Mais Orgânico, certificação feita também pelo Tecpar, o aumento de alimentos orgânicos na alimentação escolar, privilégio à produção agroecológica em programas de compra e venda do Estado, além de remuneração superior.

“Sabemos também que o jovem, para permanecer no campo, precisa ter a possibilidade de acesso a equipamentos modernos, tecnológicos, informações consistentes e redes sociais. O Estado trabalha para isso. Há estudos de alternativas junto com o Governo Federal, as concessionárias de comunicações e em grupos internos para prover os mais distantes rincões do bom acesso à internet. Não é fácil. Tem custos altos, tem obstáculos físicos, tem barreiras tecnológicas. Mas é possível, e no possível nós trabalhamos”, informou o secretário. 

“Com as modernas ferramentas, a dureza no campo, a que você se refere na pergunta, pode e está sendo amenizada. Talvez hoje exista mais dureza para os jovens nos meios urbanos do que em alguns locais do rural. O que temos conversado sempre que possível com os jovens e com os mais idosos é sobre a necessidade de que não apenas bens materiais sejam transferidos em herança. Para isso, os pais precisam mostrar aos filhos amor e paixão pelo que fazem para que esse sentimento seja a maior herança transmitida. Se houver amor e paixão pelo que foi construído, o resto vai de embalo. A motivação é catapulta que mantém o jovem no solo”, pontuou. 

Ainda como motivacional, o Estado criou recentemente a Escola Agrícola 4.0, com vistas a modernizar o ensino técnico agrícola do Paraná, e funciona na antiga Granja Canguiri. Outras escolas técnicas estão surgindo pelo Estado com o mesmo objetivo de levar aos jovens que têm vocação rural as inovações que já estão chegando ao campo. O Estado tem ainda promovido ele próprio e apoiado iniciativas de entidades parceiras para hackatons com tendência agro, que já projetaram muitas startups.

Repito que não é fácil. Muitas vezes há necessidade de conhecimento ou de ajuda profissional para se fazer a transição. A adaptação à nova realidade é fundamental, capacitação será sempre bem-vinda, organização e disciplina se fazem necessárias. O campo (e a casa de campo como extensão) precisa ser atraente, organizado, convidativo. E, fundamental, garantir renda. O jovem tem uma qualidade essencial para o campo: ele não tem medo de enfrentar problemas, ele tem um olhar para a frente, ele sabe que caminhar sempre foi e sempre será melhor que ficar parado. Então, ele caminha, disse Norberto Ortigara.

Além das ações da Secretaria da Agricultura e Abastecimento em relação à sucessão no campo, a Federação da Agricultura do Estado, através do Senar – Paraná vem desenvolvendo cursos técnicos de orientação para jovens que trabalham no campo com objetivo de estimulá-los a dar continuidade ao trabalho de seus pais. (Com assessoria).

 

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