Geral
Museu do Holocausto lança campanha em memória das vítimas

Museu do Holocausto lança campanha em memória das vítimas

A iniciativa alerta sobre a importância de preservar a memória do Holocausto e os impactos do seu apagamento nos dias atuais.

Redação - sexta-feira, 27 de janeiro de 2023 - 08:37

O Museu do Holocausto de Curitiba, em parceria com a UNESCO e a Confederação Israelita do Brasil, lança, nesta sexta-feira (27), a campanha #ContarPraViver em memória das vítimas do holocausto. Em todo o mundo, a data é lembrada para não deixarem histórias de violência e intolerância desaparecerem.

Em Curitiba, o projeto será apresentado durante uma cerimônia solene presencial no Museu do Holocausto, com início às 11h. 

A campanha conta também com o site www.contarparaviver.com.br e filmes de sobreviventes do Holocausto e também de outros brasileiros, vítimas de violência de ódio e intolerância nos dias atuais

A iniciativa faz um chamado: Adote uma história. É esperado que as pessoas compartilhem em suas redes estas e outras histórias similares de sobrevivência e resistência. Afinal, quanto mais espaço para elas, menor o espaço para crescerem o racismo, LGBTfobia, xenofobia, intolerâncias religiosa, de gênero ou qualquer outro tipo.

Criada pela Cappuccino, part of the Weber Shandwick Collective, com produção da Elo Studios, a campanha #ContarParaViver alerta sobre a importância de preservar a memória do Holocausto e os impactos do seu apagamento nos dias atuais. A inspiração veio a partir do fato de que estamos perdendo os sobreviventes ainda vivos do Holocausto – que têm, em média, 84 anos de idade. Em poucos anos, não teremos mais essas testemunhas. É urgente que se preservem essas memórias frente ao risco de a História ser distorcida e até apagada.

“O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto é um momento de recordação de um dos mais vergonhosos capítulos da história da humanidade. Oportunidade para reforçar nossa batalha contra o discurso de ódio, fortalecer nosso compromisso com a democracia e nossa luta pela inclusão e pela equidade, como fazemos nesta campanha ‘Viver para contar, contar para viver’, que divulga e preserva relatos de sobreviventes do Holocausto e de brasileiros vítimas de intolerância e violência”, diz o presidente da CONIB, Claudio Lottenberg.

Um estudo da UNESCO junto ao Congresso Judaico Mundial revela que 49% das publicações sobre Holocausto no Telegram nega ou distorce fatos.

Enquanto vemos a História sendo apagada, as violências de ódio e intolerância vão crescendo no Brasil. Na internet, os crimes de ódio apontaram 67% de crescimento no começo de 2022, segundo a Safernet. Denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% no Brasil em 2021.

O número de casos de apologia ao nazismo saltou de menos de 20 para mais de 100 entre 2018 e 2020. A quantidade de células nazistas também apresenta pico de crescimento e atinge o maior número, 1117. No fim de 2022, o país registrou três ataques de ódio em escolas. Os dados são do Governo Federal e da Polícia Federal.

“Neste Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, proclamado em 2005 pela Resolução 60/7 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a UNESCO reafirma o seu compromisso com a promoção do diálogo, da tolerância e da compreensão mútua, por meio do lançamento da campanha #ContarParaViver. diz Marlova Jovchelovitch Neto, representante da UNESCO no Brasil.

A campanha, uma parceria da UNESCO com a Capuccino Digital, o Museu do Holocausto de Curitiba e a Confederação Israelita do Brasil (CONIB), lembra de que os desafios do passado ainda estão presentes nos dias atuais e que precisamos estar sempre atentos para evitar que a história se repita.

A UNESCO aproveita a oportunidade para lembrar que o respeito à diversidade é fundamental. Uma vez que as pessoas se tornam capazes de compreender a riqueza que existe na diversidade, a humanidade avança na construção de valores essenciais para a paz, como o pluralismo, a inclusão e a tolerância, conforme estabelecido na Declaração de Princípios sobre a Tolerância, aprovada pelos Estados-membros da UNESCO em 1995. “Mais do que nunca, nós devemos respeitar, celebrar e valorizar a rica diversidade de culturas do nosso mundo, bem como reconhecer os direitos humanos e as liberdades fundamentais das pessoas, para que possamos efetivamente não deixar ninguém para trás”, diz Marlova Jovchelovitch Neto, representante da UNESCO no Brasil.

Fatos Reais

Os filmes vão contar relatos como a de Naiá Tupinambá, indígena, 19 anos, de Itabuna (BA), que sofreu vários tipos de violência verbal. Filha de uma mulher índia e um homem negro, Naiá foi classificada como parda no registro de nascimento e, ao estudar em São Paulo, recebia adjetivos como “baiana”, além de recomendações de alteração de sotaque para ser melhor aceita na capital paulista. O fato de ser nordestina e indígena levaram a adolescente a muitas exposições xenófobas. Naiá passou a faltar à escola, ter crises de ansiedade e a esconder a própria ancestralidade. A foto dela foi retirada das redes sociais para usos indevidos, além de muitos ataques e bullying
 
Já Odivaldo da Silva, 55 anos, morador de Curitiba, ao voltar do trabalho para casa, foi abordado por um homem, que começou a agredi-lo verbal e fisicamente. Sob protestos de testemunhas, o agressor disse que “morador de rua tem que morrer”

Odivaldo passou por cirurgia e tem marcas no rosto até hoje. “Nunca foi tão importante educar sobre o Holocausto e transmitir suas lições. Vamos colher os frutos desse esforço apenas quando a sociedade conseguir traçar paralelos constantes desse genocídio com a atualidade que nos aflige, com o contexto em que vivemos. Para isso, precisamos desenvolver a empatia dos jovens brasileiros por meio de narrativas pessoais, de ontem e de hoje. A data internacional do 27 de janeiro é uma oportunidade para fortalecer esse trabalho”, diz Carlos Reiss, Coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba, Membro do comitê executivo da Rede Latino-Americana para o Ensino da Shoá (LAES) e da equipe curatorial do Memorial às Vítimas do Holocausto do Rio de Janeiro.

A expectativa é que essa mobilização ganhe relevância na sociedade. “O Holocausto é um episódio sem precedentes na História e que nunca irá acontecer de novo, mas se esquecermos ou negarmos o que aconteceu, esse vazio abre espaço para novos tipos de violência, ódio e intolerância. Manter estas histórias vivas é essencial. É preciso mais do que um basta. Precisamos de um nunca mais”, conclui Vitor Elman, Copresidente da Cappuccino Digital.

Compartilhe