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Discussão sobre tratamento precoce parece fanatismo de futebol, diz presidente da SBI

Discussão sobre tratamento precoce parece fanatismo de futebol, diz presidente da SBI

O médico infectologista Clóvis Arns, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) ressaltou que não existe r..

Vinicius Cordeiro - sexta-feira, 2 de abril de 2021 - 12:00

O médico infectologista Clóvis Arns, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) ressaltou que não existe remédio e “tratamento precoce” eficaz contra a covid-19.

Em participação no simpósio “A Saúde Pede Ajuda”, encabeçado pelo vereador Dalton Borba e promovido pela Câmara Municipal de Curitiba nesta quinta-feira (1), o especialista ressaltou que não há entidades médicas sérias recomendando o uso de medicamentos como cloroquina, ivermectina, azitromicina e anticoagulantes.

“Os ânimos ficam completamente alterados, parece fanatismo de futebol. Um torcedor só porque está com a camisa de um time agride o outro porque está com a do time adversário. Temos que parar com essa situação muito triste”.

Nenhuma sociedade científica médica, que representa médicos que atendem covid-19, recomenda essas drogas, esse trabalho. Por que não? Porque os trabalhos que a gente valoriza, chamados estudos randomizados, existem e não mostraram benefícios. Os pacientes não evitaram de evoluir para doença grave e alguns deles tiveram efeitos colaterais“, completou.

Arns ressaltou que as entidades internacionais, como nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Itália, França, Espanha e Alemanha, não orientam pelo uso desse tipo de tratamento precoce.

Além disso, afirmou que houve sim uma série de estudos científicos, com mais de mil voluntários, para tentar comprovar a eficácia de algum remédio. No entanto, até mesmos os fabricantes não recomendam o uso de ivermectina ou cloroquina para o tratamento da covid-19.

“Ninguém orienta isso desde o ano passado. Estamos nove meses atrasados e ainda temos médicos que ainda brigam, colocam outdoor, fazem situações que são ideológicas e não científicas. É muito triste”, lamentou ele, citando o caso do grupo que colocou painéis espalhados por Curitiba.

LEI PERMITE QUE MÉDICOS PRESCREVAM O QUE BEM ENTENDEREM

De acordo com a legislação em vigor, determinada pelo Conselho Federal de Medicina, os médicos são autorizados a recomendar qualquer tipo de medicamento. Por isso que os profissionais são autorizados a dar prescrição para uso desses medicamentos mesmo contra as orientações das principais entidades reguladoras, como Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e OMS (Organização Mundial da Saúde).

Contudo, o especialista lamenta que haja propaganda sobre o tema por parte do governo. “O médico que quer prescrever, o paciente que quer tomar, pode fazer isso pela legislação brasileira. Só que eu acho completamente inadequado e errado que isso seja financiado por qualquer ente público, a nível federal, estadual e municipal”, finalizou Clóvis Arns.

Além dele, a secretária da Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, já criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro em “vender a ilusão” do tratamento precoce.

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