Campana: Memória de um Jornalismo sem medos
Foi de muita felicidade e apropriada a homenagem que a Assembleia Legislativa promoveu a Fábio Campana, que perdemos para a Covid em fevereiro último.
Por Aroldo Murá – Foi de muita felicidade e apropriada a homenagem que a Assembleia Legislativa promoveu, dia 13, por iniciativa do deputado Luiz Fernando Guerra, a Fábio Campana, que perdemos para a Covid em fevereiro último.
Denise Camargo, a esposa, companheira de 50 anos, lá estava dizendo seu “sim” às rememorações do parlamentar sobre a multi e diferenciada carreira de Fábio em seus mais de 40 anos de jornalista profissional.
Jornalismo profissional que nada tem a ver com os chamados “influencers” que polulam por aí, e muitas vezes poluem as redes sociais com seus “comerciais” e suas militâncias políticas, essas quase sempre permeadas de “fake news”.
NADA COM INFLUENCERS
Esses blogueiros e ditos influenciadores por vezes têm milhões de seguidores. Eles cresceram com patrocínios oficiais nos tempos do governo Lula; são também bem contemplados – em muitos sentidos – pelo atual governo federal. Formariam, segundo o ministro Moraes, do STF, o chamado “Gabinete do Ódio”.
Luiz Fábio Campana – esse é seu nome completo – estudou Psicologia e depois “pós graduou-se” na “Escola dos Jornalistas”, o dia a dia das redações e das ruas, sem ter passado pela academia que prepara os profissionais da imprensa. Ou deveria prepará-los.
O AMIGO CAMPANA
Tenho isenção suficiente para falar do amigo Campana, que até me premiou com dedicatória em um de seus muitos livros. Era um poliforme comunicador, e inegável dono de ampla cultural geral, que ia de conhecimentos históricos (vide seu nome ligado ao do Cabeza de Vaca) a quase tratados de Histórias Política, ou, ainda, expondo-se à crítica literária com seus romances nunca corretamente apreciados pelos chamados críticos literários.
Fábio nunca me pareceu preocupado com Reconhecimentos. Escrevia porque tinha de escrever. Era matéria essencial, alimentando sua dependência irremovível na análise que trabalhava sobre o Paraná, que conhecia como poucos.
ALÉM DO COTIDIANO
Enxergar Campana somente como um analista do cotidiano político local é erro sem tamanho. Ele tinha, em meio a erros e muitos acertos, o condão de descobrir o que chamo de “pecados dominantes” de certos homens públicos, os quais expunha sem temores, mas sem fechar-lhes inteiramente as portas a um diálogo futuro.
Estaria eu sendo hagiográfico quando falo de Campana? Acho que não, porque reconheço que, a par de um reconhecimento enorme na comunidade, por seus dia a dia jornalístico, ele também enfrentou batalhões de adversários, muitos dos quais o levaram a tribunais. Diziam-se agredidos pelo jornalista.
Tinha opositores, às vezes pode ter sido injusto, era humano. Com a possibilidade de Reconciliação em “pontes” que ele construía com diálogo e memória histórica única. Tal como, por exemplo, fez com Jaime Lerner, de quem foi aferrado adversário, no passado dos anos 1980/90, e de Greca, de quem escreveu um dos mais engraçados textos, irônico, expondo o hoje prefeito a sofrer, numa viagem de avião, de “frouxos intestinais”. Uma preciosidade.
De Lerner, diga-se, era, nos últimos anos, um fiel companheiro de jantares, ao lado de Deiró e Dante Mendonça. Até que a Covid acabou com eles.
EXCESSO FRATERNO
Pra mim, haverá sempre o agradecimento de quem um dia – 23/12/2003 – escreveu um texto inteiro de sua coluna na Gazeta do Povo com o título “Mestre Murá”. Mensagem que, claro, inflou meu ego e que, como tantas outras provas de amizade, faz com que não fale dele senão bem. Especialmente agora que o Anjo da Morte o levou
(“De mortuis nil nise bene”, dos mortos não se diga senão o bem). A recomendação apenas amplia meus motivos para ser, no caso de Campana, um analista comprometido em enxergá-lo como personagem raro da imprensa paranaense. Afinal, sou humano.
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