Economia
Presidente do BC diz que é ‘cedo para comemorar’ queda da inflação

Presidente do BC diz que é ‘cedo para comemorar’ queda da inflação

Em sua fala, Campos Neto previu um crescimento menor no ano que vem, dada a desaceleração mundial puxada pelos EUA, e defendeu a responsabilidade fiscal para garantir investimentos sociais.


Igor Gielow - Folhapress - quarta-feira, 16 de novembro de 2022 - 08:12

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça (15) em Nova York que “é cedo para comemorar” os “indicadores incipientes” de queda da inflação no Brasil -na realidade, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) teve um aumento de 0,59% em outubro, interrompendo três meses de queda.

Campos Neto falava em evento do Lide, grupo fundado pelo ex-governador paulista João Doria.

“Apesar de grande parte da melhora da inflação recente ser devido a medidas do governo, existem indicadores incipientes que mostram uma melhora qualitativa. É cedo para comemorar, nós precisamos persistir no combate à inflação, precisamos persistir em atingir as nossas metas porque essa é a melhor forma de contribuir com o crescimento sustentável”, disse.

Em meio ao debate sobre a prioridade que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende dar à área social em detrimento a cortes de gastos, ao menos em discurso que impactou o mercado financeiro, Campos Neto fez uma defesa da responsabilidade fiscal para garantir investimentos sociais.

“Temos de mostrar disciplina fiscal. Existe um ponto de inflexão em que apoiar os mais necessitados coloca em risco a estabilidade”, afirmou. “Precisamos de um conjunto de políticas que olhe o social, mas que atraia investimento.”

Ele defendeu a ação do BC no contexto da pandemia da Covid-19. “Acho que o Banco Central identificou rápido o começo da pandemia. Fez a maior liberação de capital e liquidez muito rapidamente. O Banco Central identificou mais rápido o caráter persistente da inflação, e foi o primeiro a subir os juros”, afirmou, citando o cenário posterior, com a Guerra da Ucrânia, que alimentou preços de energia e alimentos no mundo todo.

Em sua fala, Campos Neto previu um crescimento menor no ano que vem, dada a desaceleração mundial puxada pelos Estados Unidos. “Mas o Brasil é um sério candidato a ser beneficiado pela nova realidade global. Tem energia renovável em quantidade grande. Devemos evitar o aumento de impostos”, afirmou, aplaudido pela plateia composta majoritariamente por empresários brasileiros.

Mais tarde, em evento do Bradesco BBI voltado a investidores estrangeiros, o presidente do Banco Central voltou a afirmar que é preciso ter responsabilidade fiscal ao investir na área social, em referência a falas do novo presidente. O mandato de Campos Neto à frente do órgão vai até 2024, ou seja, ele trabalhará com Lula, conforme a lei que entrou em vigor no ano passado e que garantiu a autonomia da instituição.

“Entendemos que é muito importante olhar para o social, e entendemos que é preciso resolver isso especialmente depois da pandemia. Mas também precisamos fazer isso com responsabilidade fiscal”, afirmou, em inglês, ao público estrangeiro. “Sempre há um ponto de inflexão em que fazer mais significa ter menos resultados, mesmo para as pessoas que você quer ajudar, porque se você perde credibilidade começa a ter um efeito nos preços, nos mercados”, disse.

Campos Neto ainda defendeu que é preciso avançar na agenda de reformas estruturais. Disse ainda que a maneira que os países estão encontrando para aliviar o aumento da dívida tem sido aumentar impostos sobre o capital, o que, defendeu, pode causar mais inflação se afetar a produtividade. “É um quebra-cabeça que precisamos resolver”, disse, afirmando que o aumento da inflação global tem repercussões em mercados emergentes.

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