Economia
Petrobras intensifica anúncios de corte nos combustíveis às vésperas da eleição

Petrobras intensifica anúncios de corte nos combustíveis às vésperas da eleição

Após um semestre de pressão nos preços dos combustíveis, Bolsonaro conta com o recuo do petróleo tentar reverter danos à imagem às vésperas da eleição.


Nicola Pamplona - Folhapress - quarta-feira, 31 de agosto de 2022 - 07:57

A Petrobras divulgou um comunicado neste terça (30) informando corte de 6,4% no preço do asfalto em suas refinarias. Na segunda (29), já havia informado redução de 15,7% no preço da gasolina de aviação e na sexta (26), de 10,6% no querosene de aviação.


Foi o segundo corte seguido nos três produtos, que têm seus preços reajustados mensalmente. Foi também a segunda vez, ao menos desde o início do governo Jair Bolsonaro (PL), em campanha pela reeleição, que as mudanças foram divulgadas de forma proativa.


Embora os cortes acompanhem as cotações internacionais, a Petrobras aumentou a frequência de comunicados ao público anunciando os reajustes. A mudança começou em julho. A empresa afirma que quer aumentar a transparência.


No primeiro corte dos preços dos combustíveis de aviação e do asfalto, anunciado em julho, a estatal optou por fazer as divulgações em um mesmo comunicado. Agora, liberou as informações em três dias diferentes, com textos quase idênticos, que explicam a política de preços da companhia.


“O método de precificação busca o equilíbrio com o mercado e acompanha as variações do valor do produto e da taxa de câmbio, para cima e para baixo, mas sem repassar a volatilidade diária das cotações internacionais e do câmbio”, diz o texto.


As quedas eram esperadas pelo mercado, diante do recuo das cotações internacionais após os picos do primeiro semestre, quando os três produtos tiveram altas seguidas nas refinarias.


O preço do querosene de aviação, por exemplo, subiu todos os meses entre janeiro e julho, gerando críticas das companhias aéreas e jogando forte pressão sobre as passagens.


O valor do cimento asfáltico 50/70, principal produto desse segmento, foi elevado em fevereiro, abril e julho, impactando diretamente obras públicas e contratos de concessão de rodovias.


Em nenhum dos casos houve divulgação dos aumentos. A empresa alegava que os reajustes nesses produtos são mensais conforme fórmula contratual negociada com as distribuidoras e que os percentuais eram informados aos clientes rotineiramente.


Para uma pessoa da alta administração da companhia, a mudança na comunicação dos reajustes é motivada pela proximidade das eleições.


Em nota enviada à reportagem, a empresa afirmou que, “com o objetivo de promover a transparência, a Petrobras tem adotado a prática de divulgar comunicados públicos sobre os preços dos combustíveis” e que as informações também estão disponíveis em seu site.


Após um semestre de pressão nos preços dos combustíveis, Bolsonaro conta hoje com o recuo do petróleo e com os efeitos dos cortes de impostos sobre gasolina, diesel e etanol para tentar reverter danos à imagem às vésperas da eleição.


O tema é destaque nas redes sociais bolsonaristas e já motivou visitas a postos do próprio presidente e de seus ministros. Em agosto, a Petrobras já havia anunciado dois cortes no preço do diesel e um no preço da gasolina. No fim de julho, houve outro corte no preço da gasolina. 
O próprio presidente tem divulgado os cortes em suas redes sociais e, em mais de uma ocasião, prometeu que o Brasil terá uma das gasolinas mais baratas do mundo.


Os movimentos acompanham, de fato, a queda das cotações internacionais. Mas a periodicidade dos anúncios aumentou após a posse de Caio Paes de Andrade na presidência da estatal, no fim de junho.


Indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, Paes de Andrade chegou à empresa com a missão de segurar reajustes durante o período eleitoral, mas teve seu trabalho facilitado pelo recuo das cotações internacionais do petróleo.


Sua nomeação se deu após um conturbado processo de troca de comando, que foi iniciado com a demissão de José Mauro Coelho pouco mais de um mês após sua posse, e enfrentou questionamentos no comitê interno que avalia os currículos para a estatal.

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