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Mulheres, uni-vos!

Mulheres, uni-vos!

Não é apenas sobre sororidade, mas sobre consciência, respeito e coletividade. Basta de interesses individuais, máscaras e mulheres cúmplices do sistema opressor

Daiana Allessi - quinta-feira, 24 de agosto de 2023 - 09:00

Nada como parar, retomar o fôlego e continuar. E nesse movimento contínuo de seguir em frente, tenho observado muitas questões preocupantes que para alguns podem passar despercebidas ou serem classificadas como “mimimi”, porém seguirei firme na máxima do adágio: “eu sou responsável pelo que eu digo, mas não pelo que você entende, e tenho certeza de que “entendedoras entenderão.

Quando se fala em respeito, igualdade, justiça e caráter fica óbvio para mim que não conseguiremos sucesso, ou pelo menos uma sociedade mais pacífica e com perspectiva de gênero, enquanto as protagonistas da mudança das narrativas sociais enfraquecerem contra a pauta.

Já dizia Simone de Beauvoir que “o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”, e percebo que as aludidas cúmplices estão cientes, e usam máscaras para disfarçarem seus interesses individuais.

Aquelas que não se deram conta das opressões culturais, dos estereótipos que recaem impiedosamente sobre as mulheres, pelo simples fato de serem mulheres (e aqui falo dos rótulos de gênero respeitando as diferenças biológicas) estão isentas de culpa e demonstram o quanto precisamos avançar na comunicação e conscientização eficaz.

Refiro-me as mulheres que aparentam engajamento, consciência de gênero, raça e classe, mas que na prática, apenas defendem seus interesses em um alpinismo militante que somente a elas aproveita, e pior, enfraquecem a luta e caminhada de muitas mulheres. 

Vejo mulheres criticando outras mulheres, mulheres que deveriam defender as pautas do feminismo negro, decolonial e interseccional, da representatividade plural de mulheres na política e em cargos de comando e que apenas se utilizam do título, que na maioria das vezes faz parte de uma autointitulação que é desconectada da realidade e do comportamento esperado de alguém que deveria lutar por igualdade e respeito. Essas não representam ninguém!

Tento explicar que os feminismos instrumentalizam a necessidade do estabelecimento de igualdade entre homens e mulheres, sobretudo em relação aos direitos negados, e até mesmo sonegados. E sei que existem mulheres que se arrepiam com o termo feminismo(s) e não se consideram feministas. Cheguei a considerar incoerente o fato de uma mulher ser contra um movimento que visa estabelecer um equilíbrio social, cultural e político, contudo, analisando com mais cautela, percebi que não são só as mulheres que padecem sob os estereótipos de gênero, essa opressão se estende ao(s) feminismo(s) em si.

E irei além, pois não obstante os estereótipos (irreais e ofensivos) impostos às feministas, percebo que temos uma corrente na contramão de tudo que considero necessário para as mudanças das narrativas sociais, machistas e hegemônicas, e infelizmente, temos oprimidas que auxiliam o sistema opressor, seduzidas pela ganância, pela ilusão e pelo desconhecimento na melhor das hipóteses.

A realidade é que tenho observado nas instituições que participo e nos círculos mais próximos, que o retrocesso proporcionado pelas mulheres que auxiliam e reforçam o atraso da emancipação feminina como humanas e detentoras de direitos, é fortalecido conscientemente, maculando uma caminhada de lutas, em prol de visibilidade e capital (e quando digo capital, pode ser na acepção que você quiser, inclusive da ganância).

Essa constatação me incomodou muito e ao mesmo tempo, revigorou minhas forças em dizer e escrever o que considero necessário para que portas sejam abertas, nós desatados e que todos e todas possam ter seu espaço sem precisar macular a caminhada alheia, ou melhor, a caminhada de muitas mulheres!

Mulheres, é sobre todas e cada uma de nós, apoiem-se admirem-se, e caminhem juntas, pois sem união, não conquistaremos direitos, espaço e o tão merecido respeito!

Mulheres, uni-vos!

“O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou”
(Música: Relicário / Composição: Nando Reis)


Daiana Allessi é mãe, esposa, advogada, professora e pesquisadora sobre gênero e direitos das mulheres.

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