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Mulheres e participação política

Mulheres e participação política

Mesmo sendo maioria da população e do eleitorado, as mulheres permanecem sub-representadas na política brasileira

Daiana Allessi - quinta-feira, 17 de novembro de 2022 - 16:05

A efetiva participação das mulheres no cenário político é uma necessidade para realização da democracia. Nessa semana contei com as ilustres participações da Deputada Estadual reeleita e Procuradora da Mulher, Cristina Silvestri, e da coordenadora da Procuradoria da Mulher na Assembleia Legislativa do Paraná, Alessandra Abraão que abrilhantaram as reflexões sobre mais mulheres na política.


Dos inúmeros temas que precisam ser “mulherizados”, humanizados e equilibrados, a representação feminina nos espaços de decisão e poder desponta como um hiato quando falamos em igualdade e democracia.

Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as mulheres são a maioria da população brasileira e representam, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 53% do eleitorado, porém, seguem sub-representadas na política institucional.

Sempre me causou incômodo pensar que por imposição cultural, mitos e opressão, um segmento da sociedade (o feminino, no caso) foi privado de participar do espaço público, da política e de tomar parte nas decisões que influenciaram e influenciam suas vidas. 

Pensando que o voto feminino veio apenas no ano de 1932 depois de muita luta e articulação, e que só foi considerado obrigatório e equiparado ao dos homens no ano de 1965, não é necessário muito esforço para perceber que a cidadania feminina nunca foi favorecida ou plena.

As eleições que foram realizadas recentemente demonstram um recorde de candidaturas femininas, (aproximadamente 34% das candidaturas totais), porém o número de eleitas está distante da almejada paridade. Das 513 vagas para a Câmara Federal foram eleitas 91 mulheres e para o Senado, das 27 vagas apenas 4 foram preenchidas por mulheres.

Destaco que mesmo com as cotas de gênero, os avanços seguem lentos. Elenco como algumas das principais causas, a falta de apoio dos partidos na destinação dos recursos para a realização de uma campanha competitiva, o machismo estrutural do sistema, a sobrecarga da divisão sexual do trabalho e as dificuldades que as mulheres enfrentam em desbravar um território historicamente masculino e não permeável à diversidade como é o campo político.

E fundamento minha crítica quando digo que a política é excludente, e o machismo desponta como estrutural e estruturante desse sistema hegemônico, pois acreditem, somente no ano de 2016 foi construído um banheiro feminino no plenário do Senado! Imagino qual a sensação de invisibilidade experimentada por Eunice Michiles, ao tomar posse como primeira senadora brasileira no ano de 1979, e mesmo após a (recente) construção do famigerado banheiro, o sentimento de abandono e invisibilidade segue sendo constante entre as parlamentares.

Analisando a representatividade feminina na Assembleia Legislativa do Paraná, tivemos um salto em relação às parlamentares eleitas, que passaram de 5 para 10 deputadas estaduais na próxima legislatura. Esse dado é bastante animador, mas ainda está longe de um cenário de equidade.

Então busquei entender um pouco mais sobre o cotidiano de ser mulher dentro da Assembleia Legislativa do Paraná, e tive uma conversa muito edificante e fluida com a deputada (reeleita) Cristina Silvestri e com a coordenadora da Procuradoria Especial da Mulher na ALEP, Alessandra Abraão.

Com uma trajetória belíssima como parlamentar, Cristina contou que sempre gostou de política desde criança, e depois de sua atuação enquanto Secretária de Assistência Social do Município de Guarapuava, resolveu protagonizar na política para colocar em prática meios para auxiliar ainda mais a população, com ênfase para a defesa das mulheres.

Autora de leis importantes no combate à violência contra as mulheres e para o fomento da emancipação financeira feminina, atualmente a deputada Cristina Silvestri está como Procuradora da Mulher junto à Procuradoria Especial da Mulher (ProMu) da Assembleia Legislativa do Paraná, (www.assembleia.pr.leg.br/promu/sobre-nos) órgão que atua na defesa dos direitos femininos, no aprimoramento e efetividade de políticas públicas emancipadoras das mulheres.

O trabalho da Procuradoria é de extrema importância para as paranaenses, visto que recebe denúncias sobre discriminação, cerceamento de direitos, e a prática de violência sob vários vieses (físico, político, obstétrico entre outros), buscando efetividade na solução junto a órgãos públicos e privados.

Questionada sobre a violência política, Cristina disse que sentiu o teto de vidro que insiste em desacelerar as mulheres na política e que enfrentou muito preconceito de seus pares, sendo questionada de maneira abusiva e absurda com as seguintes falas:

 “O que você está fazendo na Assembleia?” 

“Está segurando cadeira para seu filho?”

“Você deveria ficar com a Comissão das Mulheres ou do Meio Ambiente!” Cristina relata que a fala foi seguida da justificativa de que as comissões que seriam mais adequadas a ela, que é mulher. Não que essas Comissões não fossem importantes e do interesse da parlamentar, mas surgiram como resposta ao desejo dela de participar também das Comissões relativas ao Orçamento e à Agricultura.

As diferentes perspectivas sociais alimentam a democracia e enriquecem a política. E a deputada Cristina Silvestri frisou que “acredita que a política muda com a mulher e que todas precisam acreditar que é possível serem o que quiserem e chegarem aonde quiserem desde que não desistam de seus sonhos mesmo diante das dificuldades que surgem em todas as áreas da vida.”

A busca por representatividade feminina na política é uma demanda que inclui os homens que precisam apoiar e facilitar a participação feminina de maneira efetiva, pois como bem colocado por Alessandra Abraão, “não há vácuo de poder, os homens (parlamentares) precisam sair, alternar, dar espaço para que uma mulher possa entrar”, e sabemos que essa disputa pelo poder é histórica, desigual e complexa.

Que as reflexões baseadas nessa conversa inspiradora com a deputada Cristina Silvestri e a coordenadora da ProMu, Alessandra Abraão, mulheres protagonistas e que fazem a diferença em nosso legislativo estadual, possam incentivar ainda mais mulheres a alçarem voos mais altos e desafiadores que garantam seu protagonismo em todos os espaços que desejarem, principalmente na política!


Daiana Allessi é mãe, esposa, advogada, professora e pesquisadora sobre gênero e direitos das mulheres.

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